Suspeito de tramar um plano de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou neste sábado, 16, que "não tem medo de qualquer julgamento" e que "poderia estar em um outro País", mas decidiu voltar ao Brasil em março do ano passado, depois de três meses nos Estados Unidos, mesmo considerando estar sob "risco".
"Eu poderia estar muito bem em outro País, mas decidi voltar pra cá com todo o risco. Não tenho medo de qualquer julgamento", afirmou Bolsonaro na cerimônia de lançamento da pré-candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) à Prefeitura do Rio.
Em uma das entradas da quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel, na zona oeste do Rio de Janeiro, onde ocorreu o evento, os bicheiros Rogério Andrade e Castor de Andrade – patrono da escola de samba e banqueiro do jogo do bicho morto em 1997, aos 71 anos – estampam um banner de dois metros no mezanino do "Maracanã do Samba" com a frase: "O que é nascido de Deus vence o mundo". A menos de cem metros de lá, o ex-presidente Bolsonaro e Ramagem estrelam as peças do PL para o lançamento da pré-candidatura do delegado da Polícia Federal à Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais deste ano.
Sob a frase "Um novo Rio começa agora", Bolsonaro e Ramagem posaram no palco ao lado de aliados e correligionários na manhã deste sábado, 16, para o ato político um dia após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirar o sigilo dos depoimentos de militares citados no plano de golpe de Estado arquitetado, segundo indicam as investigações, pelo ex-chefe do Executivo e seus comandados.
Figuras de peso do PL e próximas ao ex-presidente ficaram de fora do ato em tom de comício eleitoral para não descumprirem decisão da Justiça. O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, foi um dos medalhões que não esteve na quadra da escola de samba. Moraes proibiu os investigados no inquérito sobre a tentativa de golpe de se comunicarem. O general Walter Braga Netto, que chegou a ser cotado para disputar a Prefeitura do Rio e busca fincar o seu nome entre eleitores da cidade, também não compareceu.
Marcado para começar às 11h, o evento reunia menos da metade da capacidade da quadra de samba às 11h30. Incomodado com a baixa adesão, Bolsonaro pediu que os seguranças do local autorizassem que os apoiadores se aproximassem do palco: "se algo acontecer, a responsabilidade é minha".
"O presidente Bolsonaro que nos uniu como patriotas resgatou os valores tradicionais, resgatou a família brasileira e os valores de liberdade. Volta, Bolsonaro. Em 2018, elegemos Bolsonaro presidente do Brasil. Isso vai voltar. No dia seguinte, eu fui indicado pela PF para trabalhar diretamente com o presidente Bolsonaro. Aquela antiga PF que nós dava tanto orgulho. Minha responsabilidade era levar o presidente para a posse. Eu trabalhei com o presidente Bolsonaro há quase seis anos. Em 2022, eu tive a missão de concorrer a uma vaga no Congresso Nacional. Hoje eu recebo uma nova missão do presidente. Vamos tirar a esquerda do poder do Rio de Janeiro. Vamos tirar esses soldados do Lula da cúpula do Rio", afirmou Ramagem.
<b>Vaiado por militantes, governador louvou Bolsonaro e criticou Eduardo Paes</b>
Além dos figurões com restrições judiciais, apenas o senador Romário (PL), entre os nomes influentes da legenda na política carioca, não compareceu ao ato. O governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro (PL), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, deputados federais e estaduais estiveram ao lado de Bolsonaro no palco da escola do Castor.
Vaiado por parte dos presentes, o governador Cláudio Castro discursou e apelou às pautas de costumes, com indiretas ao atual prefeito Eduardo Paes (PSD), que tentará a reeleição em outubro deste ano, e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Bolsonaro fez em dois anos o que muita gente não fez em 20 anos. Em 2022, o Rio fez sua parte. Bolsonaro ganhou no primeiro e no segundo turno. O PL ganhou o governo no primeiro turno. Foi uma escolha fácil. Você quer ideologia de gênero nas escolas? Você quer bandido podendo matar policial a vontade? Esse ano temos a escolha de quem no fim de semana está nos botecos por aí, ou vamos chamar o delegado para dar ordem nesse Rio de Janeiro. Não somos gado de ninguém", afirmou o governador.
<b>Investigações representam desgaste na candidatura de Ramagem</b>
Sem um plano B para a disputa à Prefeitura da capital fluminense, o PL decidiu manter o nome de Ramagem na disputa mesmo após a operação "Vigilância Aproximada", da Polícia Federal (PF), colocar o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no centro das suspeitas de um esquema de espionagem ilegal de opositores do governo Bolsonaro.
A operação da PF e as revelações de indícios de participação do ex-presidente no plano de golpe de Estado arquitetado para impedir a posse do presidente Lula representam um desgaste de partida para a pré-candidatura de Ramagem. Líderes do PL e aliados do ex-chefe do Executivo avaliam, no entanto, que as investigações, por enquanto, não têm forças para barrar a candidatura do deputado.