Economia

Noruega enfrenta queda do petróleo sem falar em crise

Capital do petróleo da Noruega, a cidade de Stavanger viveu um boom sem precedentes nos últimos 40 anos, desde que o recurso natural foi descoberto no Mar do Norte. Sua população mais que dobrou desde os anos 70 e, hoje, o local com 130 mil pessoas viu o surgimento de restaurantes sofisticados, o preço dos imóveis disparou e empresas aéreas chegaram a criar rotas ligando a pequena cidade à Houston, nos EUA.

Nos bares próximos ao porto da cidade, estudantes suecos contam que deixaram seu país, um dos mais desenvolvidos do mundo, em busca de salários mais elevados na “capital do petróleo” do país vizinho. Na cidade, lojas de carros de luxo foram abertas e executivos competiam por um espaço entre os apartamentos mais caros do pequeno local.

Agora, porém, o cenário é diferente, diante da queda de 72% no preço do petróleo em 18 meses. Num dos restaurantes japoneses da cidade, o Sabi Omakase, as reservas despencaram. O local traz em seu cardápio ostras com cobertura de folhas de ouro, vinhos com preços exorbitantes e um menu de pelo menos R$ 500 por pessoa.

Em 2015, Stavanger viu pela primeira vez em décadas sua população diminuir. Os engenheiros, executivos e operários demitidos foram buscar empregos em outros lugares, levando também a uma queda dos preços de imóveis na região, de 4%.

Ninguém usa a palavra crise para designar o atual momento. Afinal, o país continua sendo um dos mais ricos do planeta e miséria não existe. Mas o momento, segundo bancos e governo, é de “adaptação”. Hoje, executivos contam à reportagem que o que mais se vê são pessoas checando diariamente o preço do petróleo para saber se ainda terão emprego amanhã.

Desde seu descobrimento, em 1969, e das primeiras exportações, nos anos 70, o petróleo transformou a Noruega e fez de um país de pescadores um dos mais ricos do mundo em termos per capita.

As autoridades ainda criaram um Fundo Soberano para guardar o dinheiro do “ouro negro” e, em seu pico, o caixa contava com US$ 900 bilhões. A previsão era de que, em 2020, o fundo atingiria US$ 1,1 trilhão e, de forma gradativa, o país começaria a buscar alternativas para um setor que representa mais de 25% do PIB (Produto Interno Bruto).

Mas o desabamento no preço do petróleo mudou tudo para o país que é hoje o maior produtor de petróleo na Europa Ocidental e o terceiro maior exportador de gás natural do mundo. Com uma queda nos valores do barril, não apenas as reservas nos restaurantes de luxo caíram. Mas a renda anual da exportação diminuiu e os projetos de expansão da fronteira de exploração foram suspensos.

Déficit

Já em maio do ano passado, o governo em Oslo anunciou que seu déficit ficaria em US$ 20,6 bilhões em 2015 e que a renda do petróleo cairia 30%. Mas isso representou também uma desvalorização da coroa norueguesa e ainda uma redução de 42% nos impostos pagos pelas empresas do setor de energia.

Se todos na Noruega sabiam que um dia precisariam buscar alternativas, os últimos meses têm sido de ajustes e de busca por acelerar novos projetos. No total, o setor já demitiu 30 mil pessoas no país e a taxa de desemprego, ainda que baixa, atingiu seu maior nível em nove anos. O índice passou de 2,7% em 2009 para 4,1% no fim do ano passado.

Neste ano, a expansão da economia também será freada, para apenas 1,2%. Pela primeira vez desde que foi criado, o Fundo Soberano será usado para cobrir o déficit do Estado.
No setor privado e no governo, a ordem foi dada para acelerar a adaptação do país à nova realidade. No centro de Oslo, um encontro com alguns dos maiores CEOs da Noruega mais parece a sala de uma central de comando de um país em guerra contra um inimigo. Tabelas por todos os lados, mapas jogados sobre a mesa, projeções e as principais mentes da economia reunidas. A meta: desenhar um plano para a Noruega pós-petróleo.

O grupo, ironicamente liderado pelo CEO de uma empresa do setor do petróleo, Siri Haltand, tem uma tarefa cada vez mais urgente: encontrar alternativas para investir e manter a competitividade do país, além de seu elevado padrão de vida. “Num certo sentido, o petróleo já acabou. Ainda vai garantir a renda por uns 50 anos. Mas temos de buscar formas de diversificar”, disse o historiador Ake Moe, contratado pelo Conselho de Tecnologia da Noruega. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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