Liz Truss, ex-chanceler de Boris Johnson, foi anunciada nesta segunda-feira, 5, como nova primeira-ministra do Reino Unido. Ela venceu a disputa interna do Partido Conservador, tornando-se a terceira mulher a alcançar o cargo. Agora no comando do país, ela terá o desafio de conduzir os britânicos pela pior turbulência dos últimos 40 anos – a crise econômica mais aguda entre as potências do G-7.
Truss, de 47 anos, desbancou o ex-ministro das Finanças de Johnson, Rishi Sunak, que liderou a primeira etapa da disputa, quando votaram apenas os deputados conservadores. Já na fase aberta, em que 160 mil eleitores poderiam votar, ela teve 57,4% dos votos. "Fiz campanha como conservadora e vou governar como conservadora", afirmou a premiê, que prometeu cortar impostos e baratear a energia.
Hoje, Truss tem um encontro marcado com a rainha Elizabeth II no castelo de Balmoral, na Escócia, onde a monarca passa as férias de verão – e de onde não deve sair em função de dificuldades motoras. Ontem, Truss comemorou o resultado com aliados, mas a euforia deve dar lugar à realidade dos desafios que o Reino Unido terá pela frente, principalmente o aumento do custo de vida e uma economia à beira da recessão.
<b>MEDIDAS</b>
Dos países do G-7 – as sete maiores economias do mundo -, o Reino Unido apresenta a maior taxa de inflação. As contas domésticas de energia dos britânicos estão nas alturas, a inflação chegou a dois dígitos e o Banco da Inglaterra alerta para uma crise prolongada.
Segundo a imprensa britânica, Truss deve anunciar um pacote de ajuda a indivíduos e empresas no valor de 100 bilhões de libras (cerca de R$ 600 bilhões), que incluiria o congelamento das contas de energia. Fontes do Tesouro britânico disseram que, segundo a proposta, os recursos poderiam ser fornecidos por bancos comerciais, garantidos pelo governo e repassados aos consumidores no longo prazo.
Além da crise econômica, impulsionada pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, Truss terá de lidar com uma chaga que os conservadores ainda não resolveram: o Brexit – que também teve um impacto profundo na economia britânica.
O Escritório de Responsabilidade Orçamentária, órgão que faz previsões oficiais, estima que o Brexit deixará o PIB do Reino Unido 4% menor do que ele estaria se o país permanecesse na União Europeia – pouco mais da metade desse prejuízo sequer ocorreu. Esse nível de declínio representaria perdas em produção de 100 bilhões de libras ao ano – curiosamente o valor do pacote que Truss pretende anunciar.
Mas o Brexit também tem um nó político que os conservadores não conseguiram desatar: a questão irlandesa. Com a saída da UE, a única fronteira terrestre entre Reino Unido e Europa está entre Irlanda e Irlanda do Norte. E isso é um problema porque, em tese, os norte-irlandeses teriam de voltar a viver sob as regras britânicas.
<b>ACORDO</b>
No entanto, o Acordo de Sexta-Feira Santa, assinado em 1998, que encerrou o período turbulento de violência sectária na Irlanda do Norte, exige que não haja mais postos de fronteira – o que era fácil quando Reino Unido e UE compartilhavam regras comuns. Além disso, após décadas de integração, as economias das duas Irlandas tornaram-se interdependentes e controles alfandegários significariam subir um degrau a mais no desastre.
Para contornar o problema, Johnson aceitou manter a Irlanda do Norte no mercado europeu. Truss quer violar o acordo. A UE ameaça retaliar. Ontem, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, pediu que ela respeite o que foi assinado. Uma guerra comercial com o outro lado do Canal da Mancha é a última coisa que a nova premiê precisa. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>