Pelo sexto ano consecutivo, realiza-se em São Paulo o Festival do Cinema Polonês. Começou nessa terça, 21, no Sesc Pinheiros e prossegue nesse espaço, toda terça e quarta-feira, até 13 de julho. De 30 deste mês até 3, também de julho, o CCBB integra-se ao festival, exibindo parte da programação. A cocuradora Ewa Zukrowska destaca o conceito – são obras de novos diretores até o segundo filme. Buscam oferecer um panorama amplo da vida artística, social e política da Polônia contemporânea. Além dos longas, uma parceria com o Festival de Cracóvia está trazendo uma seleção muito elogiada de curtas.
Um pouco de história – nos anos 1950 e 60, uma geração de jovens diretores poloneses, quase todos saídos da Escola de Lódz, colocou a Polônia no mapa do cinema mundial. Andrzej Wajda, Andrzej Munk, Wanda Jakubowska, Jerzy Kawalerowicz e – claro – Roman Polanski, que se tornou o mais internacional dos autores do país, filmando na França, na Itália e nos EUA. Depois deles, vieram Jerzy Skolimowski, Krysztof Kieslowski e Krysztof Zanussi. O cinema polonês diversificou-se. A geração de Wajda e Munk privilegiou o tema da guerra e a crítica do comunismo. Wajda tematizou a criação do Sindicato Solidariedade. Zanussi investigou os mecanismos do conformismo e da corrupção e seus efeitos na vida cotidiana dos poloneses. Kieslowski foi fundo nas questões existenciais e metafísicas – na célebre trilogia das cores.
Os mestres foram envelhecendo, se aposentando, morrendo. Surgiu uma novíssima geração – já sacramentada pelo Oscar (Ida, de Pawel Pawlikowski). São esses novos que ganham espaço agora. A guerra, a 2.ª, continua um tema poderoso no imaginário dos poloneses – Varsóvia 44, de Jan Komasa, foi feito para comemorar os 70 anos do levante do Exército Clandestino Polaco, que tentou liberar a capital da Alemanha nazista. O resultado foi uma carnificina. Calcula-se que cerca de 20 mil resistentes tenham sido mortos e feridos, e que entre 150 mil e 200 mil civis pereceram nos combates ou atingidos pelas bombas. Em represália, os nazistas destruíram bairros inteiros de Varsóvia. Jan Komasa conta essa história segundo testemunhos de historiadores e sobreviventes. O filme atraiu numeroso públicos aos cinemas e registrou a maior audiência da TV do país para um filme polonês.
Prédios Flutuantes, de Tomasz Wasilewski, também provocou sensação, mas não exatamente por remexer numa ferida nacional como o Levante de Varsóvia. O filme é sobre um jovem atleta, um nadador que está ganhando projeção nacional e até internacional. Ao descobrir sua homossexualidade, ele vive o dilema de sair ou não do armário. Também contemporâneos são outros dois filmes que passaram com êxito em festivais internacionais. A Moça do Armário, de Bodo Kox, é sobre três solitários – dois irmãos e sua vizinha. Um irmão sofre da Síndrome de Savant, que o distancia das demais pessoas; o outro refugia-se na internet e, quando esse último se ausenta, a vizinha, que se tranca no armário, literalmente precisa sair dele para tomar conta do rapaz. Esse comprometimento vai mudar a vida de todos. Jeziorak, de Michal Otlowski, é sobre policial que assume a investigação sobre assassinato de uma jovem, numa pequena cidade. Para complicar, seu parceiro desaparece, e isso pode ter conexão com o crime.
Entre os curtas, destaca-se Nossa Maldição, de Tomasz Sliwinski, estudante da Escola de Cinema de Varsóvia. O filme concorreu ao Oscar de documentário da categoria e o tormento do título é do cineasta com a sua jovem mulher. O bebê de ambos sofre da chamada Síndrome de Ondine e só consegue respirar por meio de aparelhos. A Polônia reflete-se em todos esses filmes e personagens.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.