Sequenciada pela primeira vez na Índia em janeiro deste ano, e hoje presente em quase 40 países, a nova variante da covid-19 Arcturus, também chamada de XBB.1.16, já circula no Brasil. A cepa recém-descoberta foi detectada no Estado de São Paulo, segundo informações do Ministério da Saúde. A linhagem vem sendo tratada desde meados de abril como uma variante de interesse (VOI, na sigla em inglês), pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em função da sua rápida disseminação nas últimas semanas.
Embora provoque sintomas diferentes em comparação com cepas passadas, como conjuntivite e quadros de febre alta, a nova linhagem não apresentou, até o momento, potencial para causar novas ondas de mortes e hospitalizações, ou então gerar riscos mais graves à saúde dos infectados, segundo especialistas. E as atuais vacinas disponíveis, de acordo com um epidemiologista ouvido pelo <b>Estadão</b>, dão conta de garantir a proteção contra a variante recém-descoberta.
A Arcturus é uma linhagem que descende da BA.2 – que por sua vez derivou da Ômicron – e por causa da sua rápida disseminação em alguns países no mundo, como Índia e Estados Unidos, a Organização Mundial da Saúde mudou, no último dia 17, o tipo de classificação de “variante de monitoramento” para “variante de interesse”. A linhagem já foi sequenciada em ao menos 37 países, incluindo Austrália, Canadá e Reino Unido.
De acordo com o Ministério da Saúde, um caso da variante XBB.1.16 foi registrado no Estado de São Paulo. A pasta afirma que as evidências sobre essa linhagem “não indicam riscos à saúde pública se comparada a XBB.1.5” – que é a principal cepa em circulação no País – e nem de aumento na gravidade dos casos.
<b>Aumento da circulação</b>
Globalmente, houve um aumento semanal na prevalência da Arcturus no mundo, segundo dados apresentados pela OMS. Entre o final de fevereiro e início de março deste ano, a prevalência da XBB.1.16 era de 0,52%. Atualmente, o índice subiu para 4,31%. A linhagem mais comum atualmente é a XBB.1.5, também conhecida como Kraken, com 45%.
De acordo com a OMS, a avaliação de risco global para Arcturus (XBB.1.16) é baixa em comparação com a Kraken (XBB.1.5), mas a possibilidade de a primeira se tornar mais predominante que a segunda não está descartada.
O último relatório técnico da OMS publicado nesta semana informa que nenhuma mudança na gravidade da saúde de pacientes contaminados foi relatada em países onde a XBB.1.16 está circulando. Somente na Índia e na Indonésia, foi presenciado um ligeiro aumento na ocupação de leitos, mas os níveis de internações ainda estão bem abaixo do que foi presenciado em ondas de variantes anteriores, segundo a organização.
Porém, embora os riscos da Arcturus sejam baixos, a variante foi lembrada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, em discurso de abertura feito em entrevista coletiva no último dia 26.
“Como ilustra o surgimento da nova variante XBB.1.16, o vírus ainda está mudando e ainda é capaz de causar novas ondas de doenças e mortes”, disse. Adhanom ainda afirmou ter esperanças de declarar o fim do covid-19 como uma emergência de saúde pública ainda este ano.
<b>Vacinas atuais protegem, diz especialista</b>
Para o epidemiologista Jesem Orellana, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), embora não se possa afirmar que a nova variante provoque “um desastre sanitário, tal como foi a Gama (P.1), na América do Sul”, a Arcturus coloca em xeque o plano de declarar o fim da pandemia.
“A XBB.1.16 é mais uma VOI. Longe de ser irrelevante, mostra como o SARS-COV-2 não deixa de mudar sua estrutura genética para versões que lhe permitem maior longevidade”, disse o especialista.
De acordo com Orellana, os sintomas provocados pela nova variante são, predominantemente:
– Conjuntivite
– Tosse seca
– Episódios febris
Alguns desses sintomas foram vistos com menos frequência em cepas que predominaram no passado. Isso prova, segundo o especialista, que “o vírus não muda apenas em termos de estrutura genética, mas em relação à própria sintomatologia”.
Mesmo assim, o epidemiologista tem um discurso tranquilizador. Ele diz que as atuais vacinas distribuídas no Brasil são capazes de proteger a população da nova nova variante. “Não há grande razão para pensarmos que vacinas como a bivalente deixarão de ser altamente efetivas para casos graves e morte por covid-19. Por enquanto, todas as vacinas seguem funcionando bem”, diz.
Apesar de não ter nenhum estudo específico que ateste que a nova variante seja mais letal, a Arcturus, segundo ele, “mostra que o vírus seguirá infectando muitas pessoas e matando outras, especialmente não vacinados, incompletamente vacinados e grupos de maior risco, como idosos e imunossuprimidos, por exemplo”.