A decisão do Supremo, que considerou, na quarta-feira, 10, inconstitucional a exigência de autorização de biografados ou seus herdeiros para que livros sobre eles sejam publicados, vai fazer a Sextante tirar projetos da gaveta. “Algumas ideias importantes que perseguíamos há alguns anos e que esbarravam no interesse ou na disponibilidade do biografado vão voltar a ser pensadas. Vamos poder contar a história sem a participação do biografado”, diz Tomás da Veiga Pereira, sócio da editora. Por questões de concorrência, ele prefere não revelar esses projetos, mas garante que em algumas semanas novidades serão anunciadas.
Uma biografia do recluso Geraldo Vandré está prestes a entrar em gráfica e o cronograma da Geração Editorial apenas coincidiu com os recentes desdobramentos acerca das biografias não autorizadas, comenta o publisher Luiz Fernando Emediato. “Íamos publicar O Homem que Disse Não, de Jorge Fernando dos Santos, de qualquer maneira”, conta. A Geração já teve alguns livros proibidos e chegou a ser condenada a pagar indenização, mas não se intimida. Tanto que no ano passado publicou Minhas Lembranças de Leminski, de Domingos Pellegrini, renegado pela família do poeta. Além do livro sobre Vandré, ela se prepara para lançar O Outro Lado do Sonho, que é a continuação de Os Sonhos Não Envelhecem – Histórias Sobre o Clube da Esquina, de Márcio Borges. A história vai agora para o lado mais político do grupo e tem até a presidente Dilma como personagem.
Um desejo de Emediato era publicar a famosa biografia de Roberto Carlos. “Nós nos oferecemos para relançá-la mesmo sem autorização, mas o autor preferiu esperar.” E completa: “Mas também já está acertado com a Companhia das Letras.”
Luis Schwarcz não confirma
O flerte entre Paulo César de Araújo e Companhia das Letras começou no ano passado, quando ele deu um curso a pedido da editora. Na sequência, lançou O Réu e o Rei – Minha História Com Roberto Carlos. “Estamos discutindo com os nossos advogados e com o Paulo César. Não há nada de concreto, mas estamos em conversa”, diz o publisher.
A edição de biografias segue de vento em popa por lá e estão no prelo, previstas para 2016 e 2017, obras sobre Silvio Santos, por Ricardo Valadares; Roberto Civita, por Carlos Magalhães; e Roberto Marinho, por Leonêncio Nossa, repórter do Estado. Uma biografia de Renato Russo também está no horizonte, e biógrafos consagrados como Lira Neto e Ruy Castro preparam livros sobre o samba e o samba-canção, respectivamente, que não são biografias propriamente ditas, mas são quase.
Além disso, a editora encomendou um livro sobre Carlos Drummond de Andrade a Humberto Werneck, cronista do Caderno 2, que após saber que não se tratava de uma biografia autorizada mergulhou no projeto – que, grandioso, precisa de patrocínio. “Já temos o apoio de uma empresa para bolsa e entramos na Lei Rouanet porque nesse caso só o pagamento da editora não seria suficiente”, diz Schwarcz.
O grupo Record, que lança na próxima semana Brizola, de Clóvis Brigagão e Trajano Ribeiro, e no fim de 2016 a biografia de Roberto Jefferson, de Leticia Fernandes e Cassio Bruno, evita encomendas. “É complicado. Dá um trabalho para o escritor e exige que ele esteja in love com o projeto. O custo é muito caro e nem sempre compensa. Bom é quando nos procuram. É um parto menos doloroso”, diz o presidente Sérgio Machado, que conta ter problemas com duas obras: “Temos uma do Jânio encomendada há séculos que não sai. Outra da Wanderléa, que precisamos fazer uma intervenção editorial e contratamos um ghost writer para ajudar”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.