Nove guardas municipais já foram presos, acusados de participar de um esquema de torturas e achaques contra suspeitos de furtos e tráfico de drogas, em Sorocaba, interior de São Paulo. As detenções vêm acontecendo desde o dia 5 último, quando houve a prisão dos quatro primeiros GMs no decorrer de uma investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do Ministério Público de São Paulo (MPSP). Conforme o MP, os guardas agiram como se fossem uma milícia, cometendo mais crimes do que os que pretendiam combater.
Nesta segunda-feira, 22, policiais civis de São Paulo cumpriram mandados de prisão contra mais dois suspeitos na base da Guarda Municipal de Sorocaba, região central da cidade. Outros três integrantes da corporação tinham sido presos no último dia 16. As prisões fazem parte da Operação Pantera Negra, que há dois meses investiga a conduta de agentes da Guarda Civil de Sorocaba, utilizando inclusive escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. Como as investigações prosseguem, não estão descartadas novas prisões.
Conforme o Gaeco, os guardas são integrantes do grupo de elite da GCM, mas agiam como se fossem uma milícia, com o mesmo "modus operandi" em comunidades urbanas de baixa renda. Eles são acusados da prática recorrente de torturas contra os suspeitos a fim de que dessem informações sobre os chefes do tráfico em cada região da cidade. De posse das informações, os agentes invadiam as casas dos suspeitos sem mandado judicial, agrediam as pessoas e recolhiam dinheiro e objetos de valor. Há suspeita da prática de extorsão e desvio de drogas. Os agentes ainda "esculachavam" as vítimas – há denúncia de que ao menos uma delas foi obrigada a praticar sexo oral em um GCM.
A investigação começou depois que uma vítima procurou o Ministério Público em Sorocaba alegando que havia sido detida pelos agentes e levada para um galpão vazio, onde foi submetida a uma longa sessão de tortura. Os guardas a agrediram com socos, chutes e pauladas. A vítima passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) de Sorocaba e o laudo confirmou as agressões.
Os presos foram ouvidos e encaminhados para uma unidade prisional do Estado. Eles não tiveram as identidades reveladas, mas alguns estão há mais de 20 anos na corporação, criada em dezembro de 1987. A prefeitura informou que a Guarda Civil Municipal e o município seguem colaborando com "tudo o que for possível nas investigações, assim como tomando todas as medidas administrativas cabíveis".
Os dois guardas presos nesta segunda ainda não tinham defesa constituída. Os defensores dos outros sete GCMs informaram que vão se pronunciar em momento oportuno.