O novo coordenador da força-tarefa Greenfield, Celso Antônio Três, propôs o envio de investigações em curso para a Polícia Federal, reduzindo a atuação do Ministério Público Federal. Em ofício enviado à 5ª Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria, responsável pelos processos de corrupção e improbidade, Celso Três diz que a PF teria mais condições de firmar acordos de não persecução penal (ANPP) e crava: "Não estou aqui para trabalhar muito".
Celso é conhecido pela atuação no escândalo do Banestado. Ao <b>Estadão</b>, em 2017, demonstrou preocupação com a falta de revisão da Lava Jato e, em agosto deste ano, condenou o personalismo de membros da força-tarefa, além de defender a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro.
O nome dele foi escolhido para a Greenfield quando o então coordenador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes pediu exoneração em setembro. Celso foi o único que se candidatou ao cargo.
"Decididamente, não estou aqui para trabalhar muito. Já o fiz na gringolândia (roça, região italiana do RS) e, chegado a Porto Alegre a bordo do êxodo rural, servido do apetitoso x-mico (pão e banana) no correr de largo tempo. Ou seja, trabalhei pela sobrevivência, não porque achasse bom. Hoje, quero é jogar futebol", escreveu.
O procurador defende que os casos da Greenfield sejam repassados à Polícia Federal, que detém "camionete pretas, armas longas, homens ninja, algemas, condução, exposição, pavor" e, por isso, conseguiriam ter mais sucesso em fechar acordos com os investigados.
"Procurador não mete medo em delinquente algum, especialmente do colarinho branco. Está na cara. Vejam face relaxada e sorridente de quem adentra a Procuradoria da República. Vejam quem assim porta-se em Delegacia de Polícia. Ou seja, possibilidade de acatar ANPP/I na Polícia é muito maior."
Celso Três também pede à 5ª Câmara que decline a competência da Greenfield a tudo que não for lesão direta e imediata aos fundos de pensão – objeto das investigações da força-tarefa – e a formatação de uma linha de produção de acordos de não persecução penal.
No ofício, Celso Três classifica o trabalho da força-tarefa como "hercúleo" e "magnífico", mas que as investigações se ampliaram e hoje ele herdou uma "montanha de processos" a ser tocado por uma equipe de sete integrantes.
"Criatura engoliu o criador. Mercê da melhor das intenções, ampliou-se em demasia o objeto. Hoje, uma das razões de rejeição da PR/DFé, precisamente, o fato que não eram atribuição originária, sendo indevidamente assumidas pela Greenfield", anotou. "Pior dos mundos: trabalho hercúleo e magnífico agora sendo tocado a contragosto pelos membros da PR/DF, quem o receberam por redistribuição. Hoje, caso ajuizemos qualquer ação (penal, improbidade) serem apedrejados por quem caiba levá-las adiante".
A Greenfield tem duração prevista até fevereiro de 2021, quando Celso Três deverá apresentar um dimensionamento do volume e da força de trabalho necessária para a continuidade das investigações. O coordenador, no entanto, não se mudou para Brasília, e continua lotado em Novo Hamburgo (RS).