A 42ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro começou na terça-feira, 15, à noite, com a homenagem a Vladimir Carvalho e a exibição, fora de concurso, de Um Filme de Cinema, de Walter Carvalho. A coincidência de sobrenomes não é casual. Vladimir é irmão mais velho de Walter.
Ambos são naturais da Paraíba. Vladimir chegou a Brasília há 45 anos e nunca mais saiu. Aqui fez a vida, desenvolveu a carreira de documentarista e a de professor. Formou gerações de cineastas. Chega agora, aos 80 anos, completados em janeiro. No currículo, constam obras tão fundamentais quanto O País de São Saruê, A Pedra da Riqueza, O Evangelho Segundo Teotônio, Barra 68, para ficar em alguns poucos títulos. Tem, em andamento, um filme sobre o artista plástico Cícero Dias. Sobre este projeto, Vladimir disse, no palco do Cine Brasília: “Tenho o direito adquirido com meus 80 anos de fazê-lo como quiser e no ritmo que bem desejar”. Sem dúvida.
A homenagem foi bonita, apesar de algumas vaias ouvidas quando o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, subiu ao palco para entregar o troféu Candango a Vladimir. Logo silenciadas, talvez pelo respeito devido pela cidade ao cineasta, que não deixou de retratá-la amorosamente, mesmo em seus episódios mais agudos. Como a construção acelerada da nova capital, que gerou muitas vítimas, em Conterrâneos Velhos de Guerra, e a invasão da UnB (Universidade de Brasília) durante a ditadura, em Barra 68. Vladimir é patrimônio de Brasília, e Brasília sabe disso.
A noite foi bonita também por conta do encontro entre os irmãos nesse mesmo palco, e com Vladimir lembrando que era o mais velho e que, com a morte prematura do pai, assumiu a criação do caçula, 13 anos mais novo. Sente por ele uma relação de afeto paternal.
Mas a noite também era de Walter, premiadíssimo diretor de fotografia de filmes como Central do Brasil e Lavoura Arcaica (entre muitos outros), além de cineasta com títulos como Janela da Alma, Cazuza – O Tempo Não Para e Raul – O Início, o Meio e o Fim. Seu novo trabalho, Um Filme de Cinema, foi construído ao longo de 14 anos. Como era diretor de fotografia de Claudio Assis em Amarelo Manga, descobriu no interior da Paraíba um cinema em ruínas, que o desconcertou.
Resolveu filmar algumas imagens por conta própria. Depois, foi agregando entrevistas com diretores como Ruy Guerra, José Padilha, Hector Babenco, Gus Van Sant, etc. A eles propunha questões como “por que você faz cinema?”. E outras, induzindo reflexões sobre a arte que praticam. O resultado é um belo e intrincado filme, que produz emoção e reflexão sobre o cinema. Foi um ótimo começo de festival. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.