Variedades

Novo gestor do Municipal defende transparência e planejamento estratégico

O Teatro Municipal de São Paulo precisa passar por uma “mudança de cultura”, com novos processos internos e maior transparência, e com um planejamento estratégico a respeito de sua função e relação com a cidade. É esse o norte do trabalho que o Instituto Odeon, organização social responsável pela gestão do espaço, segundo seu presidente Carlos Gradim, vai desenvolver.

Responsável pela gestão do Museu de Arte do Rio (MAR), o Instituto Odeon assumiu o Municipal em setembro deste ano. Segundo Gradim, em sua primeira entrevista desde então, diagnósticos ainda estão sendo feitos, mas a temporada 2018 já está “90% pronta” e deve incluir quatro óperas (os títulos ainda não foram anunciados, mas a reportagem apurou que o primeiro, em março, deverá ser Turandot, de Puccini).

Qual a impressão inicial a respeito do estado em que o Teatro Municipal se encontra?

Ainda estamos em um momento de percepção. Somos conservadores, para atuarmos precisamos nos aprofundar. Não dá para mudar sem compreender o presente. E não paramos, não fechamos as portas enquanto isso. A gente sentiu, de qualquer forma, que não havia processos claros e, na nossa visão de gestão, isso é fundamental, pois estamos lidando com dinheiro público. E queremos criar um planejamento estratégico, uma visão, uma missão, que englobe o passado e o valor simbólico do Municipal. Queremos resgatar esse imaginário pois houve um momento de ruído recentemente. Estamos trabalhando para diagnosticar problemas e criar planos de ação. No MAR, abrimos as portas com um planejamento estratégico pronto. No Municipal, queremos discuti-lo com a sociedade, para entender como ressignificá-lo.

No caso do MAR, vocês montaram uma estrutura do zero, sem os vícios de uma instituição centenária como o Municipal. Além disso, vocês herdaram neste caso um teatro com programação anunciada sem antecedência, uma crise financeira, artistas com redução de salários, dívidas antigas. Como lidar com isso?

Há questões que não se negocia, como a necessidade de processos claros. Se você vai gastar dinheiro com algo, esse dinheiro precisa seguir um fluxo específico, por isso já criamos um sistema financeiro, para entender o caminho desde a ideia até a sua realização. Não somos idiotas. Se algo está dificultando o trabalho, vamos mover montanhas para corrigir isso, mas dentro da lei. Somos transgressores, mas responsáveis. Eu estaria mentindo se dissesse que não há uma cultura arraigada que estamos tentando modificar, não a fórceps e, sim, lidando com a memória de quem já estava aqui. Mas nosso papel é trazer outra visão.

Em termos de conceito, o Odeon compreende o Municipal como um teatro de ópera? Como estabelecer um diálogo de fato entre a difusão artística e o trabalho pedagógico desenvolvido pelas escolas de música e bailado e pelas orquestras de formação?

É o que queremos responder com o planejamento estratégico. Se há dúvidas, é porque não houve clareza na concepção. E a ausência de planejamento deixa espaço para que se crie achismos sujeitos a gostos específicos. Olhando de fora, entendemos que a vocação primeira é a de um teatro de ópera, mas ele dialoga com outras vertentes da área cultural, tem o Balé da Cidade, por exemplo. Queremos ter uma resposta a respeito da missão do teatro, sobre para que ele existe. Vamos experimentar o Municipal de novo em todas as suas possibilidades, entendendo que um espaço público é um espaço para todos. Nesse sentido, a educação faz parte do nosso DNA e nos interessa aprofundar de modo racional e qualitativo a relação com as escolas.

O teatro hoje tem um conselho artístico. Está descartada a ideia de um diretor artístico?

Descartada não está. Mas entendemos que precisamos maturar, descobrir a nossa missão antes. Estamos saltando etapas, montando uma programação 2018 sem ter o planejamento estratégico. É um momento de transição entre onde estávamos e para onde queremos ir e é preciso, nessa hora, ter muita responsabilidade. A programação está 90% fechada, teremos quatro óperas e mais todo o resto.

E há orçamento para tanto?

Nosso esforço maior é trazer dinheiro do mercado e, quando a imagem do teatro começar a mudar, isso vai acontecer. O prédio está bem cuidado, o público está aqui, há uma aura muito boa. Se somamos isso a um trabalho sério, com transparência, os aportes virão. Só com o dinheiro da prefeitura, é impossível. Temos uma folha de pagamento de quase 470 pessoas, 277 delas artistas, todas indispensáveis. E queremos trabalhar também parcerias com outros teatros. Essas redes são fundamentais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posso ajudar?