Se o alfabeto hebraico é considerado, no judaísmo, sagrado, porque é em hebraico que Deus se dirige na Bíblia ao povo de Israel, ninguém melhor que um rabino para explicar o significado de cada uma de suas 22 letras. Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz, dois intelectuais especialistas na história e interpretação das Escrituras, dedicam-se a essa tarefa em O Alfabeto Sagrado (Loyola).
As páginas desse livro reproduzem um diálogo entre os dois rabinos. Pelo significado religioso das letras, eles se aprofundam em reflexões que ultrapassam o estudo linguístico, com informações e interpretações sobre as origens e a cultura do povo judeu. Os autores intercalam com frequência parênteses para contar histórias e anedotas que tornam suas lições mais leves e atraentes.
“Cada capítulo do livro é uma letra e vem introduzido pelos seus principais significados, pela grafia, simbologia, correspondência numérica e transliteração para o alfabeto do leitor brasileiro, pois cada letra, por sua vez, também é formada de letras”, observam Celso Lafer e Manuel Mindlin Lafer, na apresentação da edição da Loyola.
Para os Lafer, pai e filho, a percepção de que o alfabeto hebraico é o próprio corpo do judaísmo “teve o seu impacto inclusive naqueles judeus que se afastaram das práticas judaicas tradicionais, incorporando-se à modernidade”. É, segundo eles, o caso de Segall, Modigliani e Chagall, em cujas telas há aspectos de especificidade judaica que os aproximam, pelo fato de “terem ouvido a mesma voz da tradição judaica, reproduzindo-a nos seus quadros com os caracteres hebraicos”.
A publicação de O Alfabeto Sagrado por uma editora católica justifica-se, segundo a Loyola, pelo diálogo inter-religioso que aproxima judeus e cristãos no Brasil, por inspiração do Concílio Vaticano II, nos anos 1960.