Estadão

Novo Missão Impossível desafia a IA sem perder o ritmo da série

Pode parecer um pouco cansativo pensar em <i>Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um</i> como o sétimo filme de uma franquia. Talvez dê a ideia de que estão espremendo a história ao máximo, quase sem limites – o próprio Tom Cruise disse que pretende continuar na saga até seus 80 anos. Mas não é isso que acontece: 27 anos depois do lançamento do primeiro filme, <i>Missão: Impossível</i> mostra que a franquia pode surpreender e empolgar.

Prova disso é o excelente resultado desse Acerto de Contas Parte Um, que chega aos cinemas na nesta quinta-feira, 13. Novamente dirigido por Christopher McQuarrie (de <i>Efeito Fallout</i> e <i>Nação Secreta</i>), o longa-metragem coloca o agente Ethan Hunt (Cruise), ao lado de seus parceiros de longa data, numa missão que promete ser a mais perigosa de todas.

Aqui, o grupo precisa se unir para encontrar duas metades de uma chave. Ela tem o poder absoluto de controlar uma inteligência artificial que está saindo do controle e que, mais do que ter vida própria, pode ameaçar governos e a segurança de países. Hunt e seus parceiros da IMF precisarão desconfiar de tudo e de todos: de seus líderes, dos chefes de governo e até mesmo do que um dos integrantes do grupo diz em uma frequência de rádio.

<b>PARANOIA</b>

A paranoia toma conta do filme. É como se fosse uma versão digital de O Enigma de Outro Mundo, filme de John Carpenter em que um alienígena toma a forma das pessoas em uma estação científica na Antártica. No novo filme de Tom Cruise, a inteligência artificial se passa pelos outros, cria intrigas e, pior ainda, novas realidades. Nada é exatamente o que parece – e Ethan Hunt está enfraquecido frente ao desconhecido. Como enfrentar um monstro digital sem rosto e sem corpo?

Mas não se pense que dentro dessa trama quase orwelliana, que tem o digital como inimigo, não há espaço para a ação física – como já estamos acostumados em <i>Missão: Impossível</i>. A dupla McQuarrie-Cruise, que elevou o tom e a qualidade dos filmes da saga, não decepciona: assim como acontece em John Wick, a ação é bem coordenada e limpa, sem exagero de câmera tremida ou de efeitos. Dá pra entender o que está acontecendo.

Muito disso, é claro, nasce da disposição de Tom Cruise para fazer suas próprias cenas de ação. Quase todas são enérgicas e eficientes, com McQuarrie sabendo como filmar seu astro em situações extremas, incluindo um salto de moto de um desfiladeiro.

Para notar essa qualidade acima da média, basta fazer um exercício simples: comparar a cena da perseguição de carros nas ruas da Itália, deste filme, com outra muito similar que acontece em Velozes & Furiosos 10. Mesmo sem uma gigantesca bomba nuclear rolando pelas ruas de Roma, como acontece no filme de Vin Diesel, há mais verdade em Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um. Mesmo com a cena se estendendo um pouco mais do que deveria, o espectador fica tenso na poltrona.

Ou, ainda, com a cena do trem, já no final, quando McQuarrie brinca com as possibilidades de um acidente dessas proporções. Ainda que a história por trás dessa cena seja um tanto quanto amarga, com a explosão de uma ponte na Polônia, e tenha um certo excesso de efeitos especiais, é surpreendentemente empolgante. Talvez a melhor sequência de ação da franquia logo após a histórica escalada de Tom Cruise no exterior do prédio Burj Khalifa, em Dubai, em <i>Missão Impossível – Protocolo Fantasma</i>, de 2011.

<b>TIOZÃO</b>

Muito disso acontece, também, por conta do bom trabalho dos atores. Cruise desperta uma torcida natural: virou o tiozão simpático que faz algumas coisas malucas. Difícil não gostar de seus personagens. Ainda há o acréscimo mais que positivo no sétimo filme: Hayley Atwell (a Peggy Carter da Marvel), que interpreta a divertida e desajeitada ladra Grace. Dá vontade de ver mais.

Após o acerto de <i>Top Gun: Maverick</i> em 2022, Tom Cruise tem tudo para emplacar outro grande sucesso em 2023. Este é um filme que celebra o cinema. "Eu cresci vendo filmes na tela grande. É assim que os faço e gosto da experiência", disse ele ao The Sydney Morning Herald. Por isso, não surpreende o seu desejo de filmar até os 80. Se os filmes forem tão bons quanto tudo o que Tom Cruise vem produzindo, tenha certeza de que ninguém irá reclamar.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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