Presidentes de partidos e parlamentares minimizaram o impacto das divergências em votações no Congresso na discussão sobre as federações partidárias. Para eles, há mais pontos em comum do que posições que impeçam a formalização desse novo tipo de aliança.
Para o presidente do Cidadania, Roberto Freire, a federação é uma transição para formação de novos partidos. "Quem imaginar que é apenas uma questão de desempenho está enganado", disse. Ele defende que diferenças em questões conjunturais são menos importantes que em questões programáticas. "Tem de ter um mínimo de identidade entre os programas partidários. Se tiver programas muito diferentes, não serve."
Carlos Siqueira, presidente do PSB, também minimiza o impacto das divergências. "Essa proximidade existe, basta ver a atuação no parlamento, não por acaso PSB se alia ao PT desde 1989. Divergências não vão acabar se a federação existir, temos proximidades mas não somos iguais e nem queremos ser", afirmou.
Já o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) acredita que a federação está sendo usada de forma errada para resolver problemas de curto prazo. "A federação é uma contradição. O mais difícil é nós declararmos apoio, como o PSB está fazendo, ao ex-presidente Lula", disse. "Agora eles já têm o apoio declarado. O que a gente leva em troca disso? Nem a federação? Acho que isso está enterrando a concretização da federação, apesar do PSB ter anunciado o apoio ao presidente. Estamos vendendo o peixe muito barato", afirmou, em alusão aos desafios de negociação entre os dois partidos.
Procuradas, as lideranças de PT, MDB e PSDB não se manifestaram.
O deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS) vê com bons olhos a criação de federações, seja com o PSDB ou com outros partidos, como o recém-formado União Brasil. Para o congressista, a junção das siglas é uma boa estratégia para aumentar as bancadas partidárias e ter mais governabilidade. O líder da bancada do Cidadania no Congresso, Alex Manente (SP), corrobora a ideia. "É possível manter coerência porque a federação é o encontro de partidos que devem ter o mesmo programa estatutário e defendem a mesma linha ideológica", defendeu.
O especialista em direito eleitoral Alberto Rollo, porém, alerta que as siglas "não estão pensando no dia a dia". "Os partidos se preocuparam muito em se juntar olhando a eleição e não estão pensando em como vão votar em uma reforma da previdência, administrativa, tributária, imposto de grandes fortunas", disse.
Por enquanto, conforme mostrou o <b>Estadão</b>, as siglas ainda estão mais preocupadas se os arranjos estaduais vão permitir que a negociação avance.
<b>Municípios</b>
A convergência programática vai obrigar os partidos a levarem os embates para as disputas locais, nos municípios, em 2024. Na última reunião sobre o tema, o PSB chegou a propor ao PT que prefeitos, vice-prefeitos e vereadores tenham a preferência para eventual reeleição em 2024.
Todas as legendas que discutem federações já disputaram prefeituras e isso poderá ser diretamente afetado pela decisão. Dentre os partidos que cogitam uma união, PSDB e MDB foram os que mais concorreram entre si. De 2000 a 2020, houve 3.923 disputas entre as siglas em cidades brasileiras.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>