Em sua 32ª edição, a Marcha para Jesus na capital paulista voltou a ser um cenário de investida política no segmento evangélico. O prefeito Ricardo Nunes (MDB), pré-candidato à reeleição na disputa deste ano, e os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) – potenciais presidenciáveis em 2026 -, subiram no palco do evento nesta quinta-feira, 30, que arregimentou milhares de fiéis na área central da cidade. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi convidado, mas não compareceu. O petista encaminhou uma carta e foi representado pelo ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias.
Os políticos presentes não saíram do tom religioso em suas manifestações. Em breve discurso no início da tarde, Nunes, que é católico, fez uma declaração de fé: "Eu amo Jesus Cristo". Ele foi apresentado pelo pastor Estevam Hernandes, organizador do evento.
O líder evangélico agradeceu ao prefeito e sua esposa a presença na marcha. "Um querido irmão e família do coração", disse. "É uma alegria tê-los aqui conosco reconhecendo a importância de Jesus Cristo não só para São Paulo e o Brasil", afirmou Hernandes.
Na sequência, Nunes disse estar muito feliz por participar do ato e pediu orações pela população gaúcha após as enchentes que abalaram diversas cidades do Estado. "Nesse momento de fé, vamos colocar nossos irmãos do Rio Grande do Sul em nossas orações para que recebam uma energia muito positiva", disse o prefeito de São Paulo.
Cotados para disputar a Presidência da República em 2026, Tarcísio e Caiado também evitaram extrapolar o script religioso. No evento evangélico, foram discretos sobre temas políticos e apostaram em passagens bíblicas.
O tom comedido destoa do usado por políticos em outras edições da marcha. Em 2022, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) fez do palco um púlpito para citar números da economia, além de atacar adversários de esquerda. Em 2019, o mesmo Bolsonaro se lançou como candidato à reeleição no evento. Anos antes, em 2015, o ato ganhou contornos de manifestação contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT).
<b> Escolhidos </b>
Já na edição de ontem, a fala do governador paulista esteve próxima de uma pregação. O discurso foi marcado por referências bíblicas, com um tom motivacional em que o político se incluiu como parte do público evangélico. "Temos de nos lembrar que fomos escolhidos por Deus por causa da sua graça e misericórdia", afirmou ao enorme público presente na região do Campo de Marte.
Tarcísio pediu, em tom fervoroso, que os fiéis respondessem suas falas com "amém" e que continuassem orando pelos dirigentes do Brasil. O governador afirmou que a Marcha para Jesus é o maior evento religioso do País e encerrou o discurso "abençoando" o público.
Hernandes citou Bolsonaro ao se referir a ele como "nosso presidente". Na introdução para chamar Tarcísio ao palco, disse lembrar de quando o ex-presidente sugeriu que o líder religioso apoiasse o nome do governador na última disputa eleitoral. "Identificamos um grande homem de Deus", afirmou, se referindo a Tarcísio.
A presença do governador de Goiás também foi comemorada pelo líder religioso. Ao subir ao palco, Caiado acenou aos evangélicos com o discurso de preservação da família, segurança pública e combate às drogas.
Outros políticos ligados ao eleitorado evangélico também marcaram presença. Entre eles, o presidente nacional do Republicanos e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcos Pereira. "A futura governabilidade do País passará pelas mãos de Tarcísio e Caiado", disse o parlamentar, primeiro vice-presidente da Câmara e provável candidato à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) em 2025.
<b> Papel vital </b>
O Palácio do Planalto divulgou na tarde de ontem uma carta do presidente Lula endereçada ao ato evangélico. Na mensagem, Lula tece elogios ao evento, lembra de ter sancionado a lei que criou o Dia Nacional da Marcha para Jesus em 2009 e afirma que a igreja desempenha um "papel vital" no compromisso de construir um País mais "justo e inclusivo".
Na carta, o presidente diz também que, como cristão, se sente "regozijado de ver a dimensão extraordinária" que o evento tomou e o papel significativo que desempenha na vida de muitos brasileiros. "Promovendo valores de paz, fé, amor ao próximo e solidariedade."
Lula foi representado pelo ministro da AGU, Jorge Messias, como ocorreu no ano passado. Evangélico, Messias é considerado uma ponte entre o governo federal e o segmento religioso, com o qual a gestão petista tenta se aproximar.
O deputado Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato a prefeito e apoiado por Lula, deve participar da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, no domingo, 2.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>