As chuvas aumentaram nas últimas semanas o nível do Sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, mas importantes mananciais do Estado continuam em estado de atenção. O Cantareira estava com 42,5% de volume útil ontem, o menor nível nos últimos seis anos para esta época do ano. Em 2016, quando chegou a 18,43% da capacidade, o sistema ainda se recuperava da grande crise hídrica de 2014/15. Em 15 de fevereiro do ano passado, o Cantareira tinha 46,69% do volume útil.
Especialistas dizem que chuvas fortes e rápidas, como as que aconteceram este ano, não alimentam os reservatórios. Já o governo do Estado afirma que monitora a situação e realiza ações para garantir a segurança hídrica. A Sabesp garante que não há risco de desabastecimento no momento.
Nos últimos sete dias, o Sistema Cantareira recuperou 1,5% da sua capacidade máxima, recebendo água equivalente a 73,6 mil caminhões-pipa (1,4 bilhão de litros). A capacidade total do Cantareira é de 982 bilhões de litros. A água das chuvas é a principal fonte de alimentação do sistema, mas a média mensal vem sendo menor do que a esperada desde março de 2020. Nesses 23 meses, só em quatro choveu acima da média, sendo que janeiro deste ano foi o mês com melhor índice de chuva. Para a média esperada de 263,7 milímetros, choveu 322 mm.
No interior, ao menos duas cidades continuam com racionamento, apesar das chuvas. Em Sorocaba, a Represa de Itupararanga, que abastece 80% dos 695 mil habitantes, tinha chegado a 19,91% da capacidade em dezembro, o pior nível em 95 anos, mas se recuperou com as chuvas, chegando aos atuais 32,84%. O volume útil, no entanto, ainda está abaixo do esperado, de 52,95%, por isso o rodízio é mantido.
“A antecipação do fim do rodízio dependerá do comportamento do reservatório, com o nível se recuperando até um ponto mais favorável”, informou o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Sorocaba (Saae). Desde que adotou o rodízio, o Saae recebeu 324 denúncias de desperdício de água e emitiu 31 notificações de flagrante, que podem ser convertidas em multas. Amanhã, será feita uma revisão no plano de racionamento.
Rio das Pedras não suspendeu o rodízio. Os reservatórios operam com mais de 50% da capacidade, mas não atingiram o nível desejado. Outras cidades suspenderam o racionamento, mas mantêm campanhas para economia de água. Em Valinhos, choveu apenas 45,8 mm nos primeiros 15 dias deste mês, pouco mais de 25% da média de fevereiro e o nível das quatro represas municipais, que melhorou com as chuvas, está caindo. “Sem contar a captação do Rio Atibaia, hoje estamos com água reservada para 20 dias de abastecimento, por isso continuamos precisando de mais chuvas”, disse Gabriela Angeli, do Departamento de Água de Valinhos. A vazão do Rio Atibaia, que responde por 50,6% do abastecimento de Valinhos, está alta, por isso o rodízio foi suspenso.
Em Itu, o rodízio acabou depois que as chuvas elevaram o nível dos nove mananciais de abastecimento para 75,7%. Também em razão das chuvas, a prefeitura de Porto Feliz anunciou a suspensão do racionamento no último dia 1.º, mas o município usa as redes sociais para pedir economia de água. Em Bauru, a recuperação no nível do Rio Batalha também garantiu a volta do abastecimento normal. Franca também teve o racionamento suspenso.
<b>CHUVAS RÁPIDAS</b>
De acordo com o especialista em recursos hídricos e secretário executivo do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), Francisco Lahoz, com as mudanças climáticas estão acontecendo chuvas muito fortes e rápidas que causam impacto na população, como alagamentos e inundações, mas não recarregam o lençol freático. Consequentemente, também não aumentam de forma duradoura as vazões dos rios.
Em janeiro deste ano, por exemplo, choveu 38,8% acima da média na região entre Piracicaba e Jundiaí, mas as vazões dos principais rios ficaram até 40% abaixo do esperado. “As bacias PCJ, que incluem o Cantareira, vêm enfrentando nos últimos cinco anos diminuição na média anual de chuvas, o que reflete na recarga do lençol freático que irá abastecer os rios”, explicou.
As obras estaduais e uma redução de ao menos 10% no consumo da Grande São Paulo obtido graças às campanhas iniciadas durante a crise hídrica devem dar sustentação para o abastecimento durante a próxima estiagem, segundo o especialista. “A interligação dos sistemas que abastecem a região metropolitana nos dá essa segurança para 2022, mas é preciso pensar em produzir mais água.”
O ideal, segundo o especialista, é que aconteçam chuvas em intervalos capazes de possibilitar a infiltração no solo e que não se transformem em escoamento superficial. No Cantareira, segundo ele, as chuvas no mês de janeiro ficaram 22,1% acima da média histórica. No entanto, o volume de água armazenada encerrou o mesmo período em 33,17% da capacidade. “O esperado é que os reservatórios do sistema chegassem ao fim de janeiro com 60% do volume útil para enfrentar o período de estiagem. Como isso não aconteceu, é preciso que nos próximos meses chova mais”, disse.
<b>SEGURANÇA HÍDRICA</b>
A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente informou que o governo monitora a situação dos mananciais e, nos locais que não são atendidos pela Sabesp, o Estado anunciou uma série de medidas para garantir a segurança hídrica e evitar o desabastecimento, como perfuração de poços e desassoreamento. “Neste sentido, o Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) está viabilizando quatro novas barragens que, juntas, irão armazenar 95,7 bilhões de litros de água”, disse em nota.
O governo lançou recentemente o programa “Água é Vida” que vai reforçar a segurança hídrica para 2,1 milhões de paulistas. As ações preveem perfurações de poços artesianos em 125 municípios, limpeza de reservatórios e desassoreamento de rios. Os investimentos somam R$ 400 milhões.
A Sabesp informou que as chuvas de janeiro contribuíram para os mananciais e as projeções são de aumento no nível dos reservatórios também em fevereiro e março, meses com boas médias históricas de chuva. “Não há risco de desabastecimento neste momento na Região Metropolitana, mas a companhia orienta sobre o uso consciente da água em qualquer época e em todos os municípios em que opera.”
Conforme a Sabesp, o Sistema Integrado Metropolitano é composto por sete mananciais (Cantareira, Alto Tietê, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Claro e São Lourenço). Os investimentos da companhia tornaram mais robusto e flexível o sistema integrado (sendo possível abastecer áreas diferentes com mais de um reservatório). Há o novo sistema São Lourenço, com investimentos de R$ 2,21 bilhões, e a interligação da bacia do Paraíba do Sul com o Cantareira, no valor de R$ 555 milhões.
A interligação do Rio Itapanhaú, obra de R$ 111,58 milhões, está em andamento e inicia operação no primeiro semestre. Ainda segundo a Sabesp, outras medidas são a ampliação da infraestrutura e gestão da pressão noturna para redução de perdas na rede.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>