Estadão

O adeus do Roxy e o fim do cinema de rua

Marco do Rio, o Cine Roxy é o último cinema de rua de Copacabana, na zona sul, a fechar as portas. A disseminação das plataformas de streaming e a pandemia foram determinantes para o fim.

Difícil achar um carioca com mais de 30 anos que não tenha uma história emocional forte com o cinema, inaugurado há 83 anos, e que foi palco de alguns dos maiores lançamentos da história do cinema nacional e internacional. Nos últimos anos, no entanto, as três salas eram frequentadas em grande parte pelo público idoso – que é preponderante no bairro e foi o maior alvo da covid.

Após meses fechado, o cinema voltou a funcionar em outubro, mas fechou novamente em dezembro. O grupo Kinoplex informou na ocasião que iria esperar até que toda a população do Rio estivesse vacinada para reabrir em segurança. Aparentemente, a hipótese foi descartada. O imponente imóvel em estilo art déco, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, está à venda por cerca de R$ 30 milhões, segundo publicou <i>O Globo</i>.

Quem comprar o prédio de 2,5 mil metros quadrados pode até mudar a função, mas terá de preservar praticamente todas as principais características arquitetônicas do imóvel, tombado pelo patrimônio histórico do município desde 2003. "O tombamento levou em conta o fato de o antigo cinema representar um marco referencial na cultura cinematográfica da cidade e a importância arquitetônica original, marco da engenharia moderna na cidade do Rio de Janeiro", informou, em nota, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. "Estão incluídos no tombamento todos os pilares da entrada, voltados para a Avenida Nossa Senhora de Copacabana e Rua Bolívar; o letreiro externo sobre a entrada; a galeria de entrada com as esquadrias, pisos, escadarias corrimãos, luminárias originais e seus materiais de revestimento; bem como o jirau de entrada e a cúpula de concreto que encima as salas de projeção. Esses elementos arquitetônicos não podem sofrer modificações porque são tombados."

<b>Fenômeno mundial</b>

Inaugurado em 3 de setembro de 1938, o Roxy era um dos principais exemplares no Rio dos chamados cinemas palácios, com capacidade para 1,6 mil espectadores. Nos anos 90, a grande sala de exibição foi dividida em três bem menores, seguindo uma tendência mundial. "É o fim de uma era, a era dos grandes cinemas catedrais, dos quais o Roxy foi um dos mais importantes representantes. É uma perda lamentável", afirmou o cineasta e diretor do site FilmeB, Paulo Sérgio Almeida. "Mas o fim dessa era parece inevitável, está acontecendo em todas as capitais há muitos anos e, agora, vem sofrendo uma grande pressão pelo streaming e, finalmente, pela pandemia."

Segundo o professor de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF) João Luiz Vieira, "o Roxy trouxe o cinerama para o Rio". "Até 1967 tínhamos de ir a São Paulo, ao Cine Comodoro, para assistir aos filmes nessas telas amplas, panorâmicas, com 146 graus de curvatura, que promoviam uma grande imersão no filme", lembra Vieira. "2001, uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, é feito para essa tecnologia de exibição, foi pensado para esse tipo de imersão; quando vi o filme pela primeira vez, no Roxy, não consegui sair do cinema, vi duas sessões seguidas, na terceira fila."

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

Posso ajudar?