Quando alguém tem uma notícia ruim para dar mas não quer ir direto ao assunto costuma contar em partes. Em vez de dizer que o gato de estimação da pobre velhinha morreu após uma queda, é necessário antes prepara-la emocionalmente. Então, o melhor jeito seria dizer primeiro: “o gato subiu no telhado…”. Aos poucos, com jeitinho, vai se dando a notícia final. Pois bem, na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) subiu no telhado.
Conforme já era previsto, a política adotada pela atual administração do principal banco de fomento brasileiro, de emprestar muito dinheiro a juros subsidiados a grandes grupos econômicos, utilizando-se de recursos do Tesouro Nacional, naufragou. Diversas dessas empresas, como o Grupo X e a empresa LBR, entre outras, por mais que tivessem o incentivo do BNDES, quebraram, colocando em xeque esse governo, que jogou dinheiro público no lugar errado.
Não é de hoje que o gato dá sinais de que não andava bem das pernas e, mais cedo ou mais tarde, subiria no telhado. Ainda sob a batuta do ex-presidente Lula (PT), o BNDES passou a privilegiar os chamados “campeões nacionais”. Sem dinheiro suficiente, houve grande transferência de recursos do Tesouro para o banco, com a emissão de títulos públicos. Em 2009, foram R$ 100 bilhões de repasses. Mas a mina foi secando e, ano a ano, os valores diminuindo. Em 2012, eram R$ 45 bilhões e neste não deve passar dos R$ 20 bilhões.
Desta maneira, o desgoverno de Dilma Rousseff, na voz do também perdido ministro Mantega, anunciou que o BNDES não concederá, a partir de 2014, empréstimos para os Estados, que precisarão recorrer a instituições privadas. O foco do banco de fomento será apenas em setores que encontram maior dificuldade para obtenção de financiamento que, no entender do governo, é o de infraestrutura e indústria pesada. Mais um erro de avaliação, já que há diversos outros setores agonizando no país. E ainda assim, para oferecer esse dinheiro, o BNDES terá que utilizar recursos próprios advindos dos pagamentos dos empréstimos concedidos ao longo dos anos.
Ou seja, já escorregando do telhado, o principal banco de fomento, que deveria servir para incentivar a produção no Brasil, agoniza. Por irresponsabilidade do governo que está aí há mais de dez anos, ele – se não padecer – encolherá, perdendo sua capacidade de geração de lucros que pudessem resultar em dividendos para serem devolvidos ao Tesouro. Não é difícil concluir que a aposta errada trará sérias consequências à saúde financeira do país.
É triste perceber que o Brasil como um todo vai pagar um preço caro demais por ter entregado a administração do país a uma gente despreparada, que utilizou os recursos da União para fazer apostas ao vento. Não se trata de sorte ou azar, mas de incompetência de quem não sabe fazer e – por isso – faz mal feito e gasta muito. O BNDES não apenas subiu ao telhado, mas sua inevitável queda pode levar junto boa parte do setor produtivo. Resta saber quem irá arcar com as despesas do enterro.
*Carlos Roberto é deputado federal, presidente da subcomissão de monitoramento das políticas de financiamento dos bancos públicos de fomento, com destaque ao BNDES, e industrial.