O Brasil não tinha uma equipe na Copa do Mundo. O que a seleção brasileira tinha em campo eram alguns astros isolados e, num Mundial, isso não é suficiente. A avaliação é do alemão Franz Beckenbauer, campeão do mundo como jogador e como treinador.
Em entrevista um mês depois do tetracampeonato mundial da Alemanha, o “Kaiser” explica os motivos do sucesso da seleção alemã na Copa e faz alertas ao Brasil. Eis os principais trechos da exclusiva, concedida no vilarejo de Ulrichen, na Suíça.
Agência Estado – Um mês depois do choque dos 7 x 1 contra o Brasil (na semifinal da Copa), como o senhor explica aquela goleada?
Franz Beckenbauer – Foi um dia muito negro. Aquilo jamais voltará a acontecer numa semifinal da Copa do Mundo. Parecia que a Alemanha estava jogando contra uma equipe de crianças. Mesmo como alemão, foi difícil assistir ao que estava ocorrendo.
AE – Mas o que levou à goleada?
Beckenbauer – O que é certo é que a defesa brasileira falhou muito. David Luiz, Dante e Marcelo não se encontravam. Eles são grandes jogadores em seus clubes. Em alguns dos gols, via-se sete ou oito brasileiros dentro da área ou defendendo, contra três alemães, e, mesmo assim, esses jogadores alemães apareciam totalmente livres na área.
AE – O que isso mostra?
Beckenbauer – A realidade é que o Brasil não formou uma equipe de fato. O Brasil não tinha uma equipe na Copa do Mundo. O que o Brasil tinha em campo eram alguns astros isolados e, num Mundial, isso não é suficiente. Dependiam de Neymar e de Thiago Silva e, quando esses jogadores saíram, os que estavam em campo pareciam que não sabiam para quem tocar.
AE – Que lição se tira disso?
Beckenbauer – A lição não é apenas para o Brasil. Seleções que foram ao Mundial apenas com astros e sem uma equipe não resistiram. Essa foi a Copa do coletivo. O que a Costa Rica fez foi justamente agir como um coletivo e surpreendeu até a Itália.
AE – Muito se falou da preparação de longo prazo da Alemanha para chegar ao nível que está hoje. Qual foi o segredo?
Beckenbauer – Apostar nos jovens, nas equipes de base. Mas a realidade é que, na Alemanha, nós copiamos esse sistema da França. Foram eles quem apostaram nisso e funcionou. Em 1990, a França começou a preparar jovens para ter um time forte para disputar a Copa de 1998, em sua casa. É dessa geração que vem Zidane e outros. Na Alemanha, o que fizemos foi levar essa estratégia ao seu limite, obrigando a todos os clubes a ter escolinhas e times de base. E o que estamos vendo hoje é uma renovação dos jogadores sem qualquer buraco.