Coluna semanal do jornalista, doutor em Comunicação Social e professor Oswaldo Coimbra
A realização da Copa do Mundo no Brasil se tornou um comprovado sucesso como evento esportivo contrariando as previsões pessimistas iniciais de parcelas da população e da imprensa de nosso país. As grandes emoções que já proporcionou criaram imagens que mostraram um impressionante alcance do interesse pelas disputas de suas partidas até mesmo em países onde a prática de outros esportes prepondera sobre a do futebol, como os Estados Unidos, por exemplo. Quem, antes, imaginaria ver a imagem mostrada pela imprensa mundial do presidente Barack Obama diante de uma televisão torcendo pelo time de futebol seu país? Logo lá, onde, como é sabido, prepondera entre torcedores o amor, sobretudo, por beisebol e basquetebol.
Este êxito da Copa do Mundo, sob este aspecto, levou, há poucos dias o presidente da Fifa a agradecer publicamente ao povo brasileiro a acolhida do evento. O senhor Joseph Blatter teve motivos especiais para isto, mostrando, assim, por fim, outra face diferente daquela rígida e intolerante mantida pelo secretário da entidade ao vistoriar as construções caríssimas dos estádios de “padrão Fifa” em cidades do nosso país.
Afinal, a Fifa conseguiu vender mais de 11 milhões de ingressos evitando que, no Brasil, fossem realizados jogos com pequenos públicos, como ocorreu nas copas anteriores da África do Sul e do Japão e na Coréia. O faturamento da entidade, nesta copa, com apenas com a venda do direito de transmissão das partidas nos estádios brasileiros, deverá ultrapassar os quase dois bilhões e meio de dólares que ela conseguiu na copa anterior.
Tudo poderia, assim, estar no mais perfeito dos mundos. Se, no entanto, quatro cidades de onde as partidas da copa foram transmitidas não estivessem amargando prejuízos, com uma baixa ocupação de vagas nos seus hotéis, devido ao controle rígido imposta pela Fifa às câmeras usadas nas transmissões dos jogos, reservando-as apenas para as marcas que vende. Com este controle, o mundo inteiro quase só pôde ver das cidades brasileiras gramados e arquibancada dos seus estádios.
Não surpreende, portanto, que Cuiabá, Manaus, Natal e Curitiba não tenham atraído turistas em número suficiente à obtenção das compensações que bem mereciam. A exuberância da beleza da natureza de suas regiões e o fascínio da originalidade das suas culturas não dispuseram sequer de alguns breves segundos nas transmissões controladas pela Fifa, antes ou depois das partidas. Embora nestas capitais tenham sido gastos respectivamente 510, 669, 400 e 326 milhões de reais com as construções dos tais estádios de padrão da entidade.
Não parece um conto de vigário?