O Brasil está há 20 anos tentando se incorporar às cadeias de comércio global, mas sem sucesso, segundo análise de especialistas e consultores reunidos pelo Instituto República, consultoria franco-brasileira de estudos e debates econômicos, que organizou seminário nesta segunda-feira, 27, em São Paulo.
Para Octavio de Barros, presidente do conselho do instituto e vice-presidente da Câmara de Comércio Brasil-França, cada vez menos empresas estrangeiras querem se instalar no Brasil interessadas apenas em mão de obra mais barata. Elas procuram um ambiente de negócios mais favorável, que passa pela aprovação de reformas, como a tributária e a da Previdência.
O secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, Jorge Arbache, aponta que o desenvolvimento e a gestão de recursos digitais estão concentrados nas mãos de poucos países e de grandes empresas. “Uma coisa é utilizar recursos digitais, outra coisa é desenvolver e gerenciar. Aqui estaria uma grande fonte de explicação das taxas de produtividade baixas do Brasil.”
O diretor executivo do Conselho de Administração do Banco Mundial, Otaviano Canuto, lembra que o Brasil está na primeira fase da revolução industrial, enquanto países mais abertos já discutem a indústria 4.0, de fábricas inteligentes em que a tecnologia liberaria o trabalhador para funções mais complexas. “A China já está num estágio híbrido e é o país que mais introduziu robôs em suas fábricas em termos absolutos.”
No debate, o consultor de empresas e ex-presidente da Petrobrás Henri Philippe Reichstul lembrou que o Brasil tenta se abrir há pelo menos 20 anos. “As cadeias internas são muito densas, porque o País é fechado. Quando o Brasil conseguir entrar em um novo processo de industrialização, vai se tornar um país mais dinâmico.”
Ele lembrou que o maior desafio dos países emergentes, como o Brasil, está em como se inserir nas cadeias globais de valor a partir das próximas décadas, em uma realidade em que a produção tende a ser cada vez mais descentralizada e os países precisam reinventar suas funções produtivas para não ficarem em segundo plano no comércio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.