Livro investiga e confere as similaridades entre o teatro épico de Beltolt Brecht e a obra do diretor português
Quando morreu em 2015, o diretor português Manoel de Oliveira era considerado “o mais velho realizador do mundo em atividade”, pois tinha 106 completos e trabalhava na realização de mais três projetos de longas, entre eles, a adaptação de A Igreja do Diabo, do conto homônimo de Machado de Assis, com Fernanda Montenegro e Lima Duarte.
A obra cinematográfica deste fecundo e longevo diretor é analisada sob o ponto de vista do teatro épico desenvolvido pelo dramaturgo alemão Beltolt Brecht no livro O Cinema Épico de Manoel de Oliveira da pesquisadora e professora da Unesp, Renata Soares Junqueira (Editora Perspectiva, 192 págs.).
Estudiosa da obra do diretor português, a pesquisadora e professora lançou Os Pobres no Cinema de Manoel de Oliveira (Todas as Musas, 2017) e Manoel de Oliveira: Uma Presença (Editora Perspectiva, 2010).
Neste novo livro, ela classifica o cinema do diretor como “Cinema Épico”, que ela descreve como: “O cinema de discurso opaco, crítico, autorreflexivo, não-iluminista (não-aristotélico, portanto), similar ao que Brecht propunha para o teatro em alternativa ao dramático que é, como se sabe, propício à produção do efeito catártico preconizado por Aristóteles”.
Entre o lançamento do seu primeiro filme, o curta-metragem documental Douro, Faina Fluvial, em 1931, até o seu último, por coincidência outro curta, agora ficcional, O Velho do Restelo, de 2014, o realizador português fez 42 longas e 19 curtas e médias-metragens. Em todos eles, Oliveira buscou investigar a condição da alma humana e da sua impossibilidade de completitude da nossa existência. O mistério como fiel condutor da vida humana.
Assim como Brecht, segundo a autora, o cinema de Oliveira evitava a dramaticidade. Ambos eram adeptos do cinema russo dos diretores Dziga Vertov e Eisenstein, e, portanto, rejeitavam padrões estabelecidos e os ditames do cinema feito em Hollywood. Admirador do palco, Oliveira colocava a realização da sua obra cinematográfica a serviço do teatro, a maior de todas as artes, segundo ele, e a literatura.