Quinze anos depois da morte de Cláudio Abramo, a carreira dele ainda é vista por muitos jornalistas brasileiros como um modelo, raro e valioso, de exercício profissional, dentro da Grande Imprensa escrita brasileira. Um misto de talento, ética, e muita sensibilidade social.
Mas, com seu espírito crítico, Cláudio, certamente, jamais teria gasto tempo em enfileirar num único documento o que havia realizado dentro do Jornalismo, se a burocracia da Escola de Comunicação e Artes-ECA, da Universidade de São Paulo, não lhe tivesse exigido a apresentação formal de um currículo, quando ele foi convidado a ministrar uma disciplina pelos professores do curso de pós-graduação daquela instituição.
Cláudio começou a atender aquela exigência boba com boa vontade. Informou que, com pouco mais de 25 anos de idade, trabalhou “na propaganda aliada durante a 2 ª Guerra Mundial” e, em seguidas, “por breve período, no Diário da Noite”, de onde – ele fez questão de registrar – foi “demitido por fazer greve”.
A partir dos 25 anos, começou sua escalada em O Estado de S. Paulo: de repórter a um dos responsáveis pela grande reformulação que o jornal sofreu.
Num item correspondente a 1964, Cláudio escreveu: “Passa quase o ano inteiro desempregado por discriminação política”.
Adiante, veio a passagem dele pela Folha de S. Paulo, igualmente marcante, pois terminou com a participação de Cláudio em grandes mudanças, desta vez no eterno concorrente do Estadão.
Depois, aparentemente, a paciência de Cláudio sumiu. Ele abreviou e misturou itens, com crescente ironia: “Viajou muitíssimo, escreveu muitíssimo, assinando o nome ou não assinando, ou assinando com pseudônimo..Não é membro de academias ou clubes. Fez o curso primário e os cursos de madureza do ginásio e do colégio, estes depois de maduro. Não tem curso universitário. Fala corretamente cinco línguas. Escreve em português e inglês, corretamente. Nunca publicou livros. Nunca fez poesias. Nunca escreveu ficção, nem a jornalística”.
E concluiu: “Nunca entrevistou atrizes de cinema, cantores, Jânio Quadros, o papa João Paulo II ou Winston Churchill. Nunca ocupou cargos públicos. Plantou muitas árvores. Tem três fi1hos e sete netos”.