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O custo Brasil tira a nossa competitividade para exportar, diz industrial

“Entra governo e sai governo, e ainda não temos uma política industrial”, reclama o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira. Ele diz que o atual governo dá sinais de que quer proporcionar uma reindustrialização – ou neoindustrialização – e deu alguns passos com o anúncio, no dia 25, de linhas de crédito a juros “mais palatáveis”, pois ele aponta a taxa básica de juro como um dos grandes problemas atuais que afetam a competitividade internacional de todos os setores.

Os fabricantes de calçados, pondera Ferreira, não têm problemas de competitividade quando avaliada a produção de pares produzidos por trabalhador. “O nosso problema é estarmos instalados no Brasil, pois é o custo Brasil que tira nossa competitividade para fins de exportação.”

FOMENTO À MODERNIZAÇÃO

Segundo o executivo, em 2022 a média de produção por trabalhador do setor foi de 2.863, acima da média dos quatro maiores fabricantes globais – China, Índia, Vietnã e Indonésia -, de 2.510 pares. Em 2019, antes da pandemia, a média brasileira foi de 3.374 pares, mas o preço médio da produção subiu 38% no pós-pandemia e as fabricantes passaram a focar mais em produtos de maior valor agregado, que exigem mais mão de obra. “Em números relativos é menor, mas o mix maior da produção passou a ser de produtos de couro, com mais valor agregado, enquanto caiu a produção de calçados de plástico e de borracha”, diz.

O País, afirma Ferreira, tem indústrias calçadistas em mais de 600 municípios de 25 Estados, boa parte com certificados internacionais de origem sustentável e parque industrial competitivo. “Se tivesse algum fomento à modernização, certamente o setor seria mais produtivo e exportaria mais, pois nosso problema não é competitividade, é custo.”

Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin, é fundamental acelerar os ganhos de produtividade na indústria. “Toda a pretensão social do governo, por exemplo com revalorização dos salários, encontra seu limite no ritmo de crescimento da produtividade.”

Ele acredita que, por ser crucial e urgente, essa agenda teria de ser construída em fases, partindo da melhoria da educação, de programas de qualificação profissional e da ampliação dos investimentos em inovação, cujos efeitos serão sentidos mais no longo prazo. “Um programa de atualização tecnológica, com condições adequadas de financiamento do investimento e maior acesso a tecnologias internacionais, também é essencial, mas com efeitos mais de médio prazo, à medida que os investimentos vão atingindo seu ponto de maturação”, diz.

Uma agenda mais imediata seria difundir técnicas de gestão já conhecidas que racionalizam o processo produtivo. Ele cita o programa Brasil Mais Produtivo, criado em 2016. Ele teve resultados expressivos em projetos-pilotos, com ganhos de produtividade entre 40% e 60% em pequenas e médias empresas, mas hoje está praticamente parado por dificuldades de financiamento.

Cagnin ressalta que a indústria se caracteriza pelo ganho de escala, ou seja, é sempre mais eficiente quando produz muito. “A produtividade melhora quando a indústria cresce mais aceleradamente, quando atende mercados maiores, quando exporta; então, este quadro sistemático de redução de produção ou de andar de lado não ajuda o setor a obter ganhos de escala e ampliar sua produtividade. Para além das mudanças estruturais, crescer mais ajuda”, diz.

5 VIAS DA PRODUTIVIDADE

<b>1. Educação</b>
Investimentos em educação, com programas de qualificação profissional

<b>2. Inovação</b>
Ampliação dos investimentos em inovação

<b>3. Tecnologia</b>
Programas de atualização tecnológica, com condições adequadas de financiamento e maior acesso a tecnologias internacionais

<b>4. Gestão</b>
Difusão de técnicas de gestão que racionalizam o processo produtivo

<b>5. Escala</b>
Ganho de escala, com ampliação das exportações

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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