Gigante multinacional dos alimentos que completa cem anos de Brasil em janeiro de 2021, a suíça Nestlé recebeu uma injeção de ânimo corporativa inesperada durante a pandemia de coronavírus. À medida que a economia parava e as pessoas ficavam mais em casa, a companhia de alimentos não podia cruzar os braços, pois seus produtos estão presentes em 99% dos domicílios. Segundo o presidente da Nestlé Brasil, Marcelo Melchior, a necessidade de seguir em frente deu à empresa uma agilidade de decisão que ele vai tentar preservar à medida que o País caminha para o "novo normal".
"O desafio é não voltar aos vícios do passado, para aquela inércia em que cada um trabalhava no seu silo e a comunicação não ficava muito fluida. Na pandemia, nós fomos extremamente ágeis e nos falamos o tempo todo", disse Melchior, em entrevista ao <b>Estadão</b>. "A grande pergunta é: será que vamos conseguir manter esse padrão? E a resposta eu só vou ter daqui a 6 meses ou 1 ano."
Em vez de fazer o centenário brasileiro virar uma celebração apenas do passado, a Nestlé quer fazer da data uma razão para discutir temas relacionados a meio ambiente, sociedade e governança (ESG, na sigla em inglês). Entre os projetos que vão marcar as comemorações estão uma ação de reflorestamento de uma grande área na Bahia e a divulgação de uma pesquisa global sobre as dificuldades que os pais enfrentam para criar os filhos em diferentes regiões do mundo.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
<b>Como a pandemia afetou os negócios da Nestlé e como a empresa se adaptou a ela?</b>
Acho que soubemos nos reinventar. Sabíamos que precisávamos continuar a abastecer o mercado, pois 99% dos lares brasileiros têm produtos Nestlé. Então, para os nossos 7 mil promotores de venda, que abastecem supermercados em todo o País e não podiam parar, usamos a nossa frota para fazer uma carona solidária – evitando, assim, que esses trabalhadores usassem transporte coletivo. Cada pessoa também passou a cuidar de uma só loja. E o mais importante para a gente são fábricas e equipes comerciais, que não pararam. O escritório foi mais fácil de resolver, mas ele só representa 2 mil pessoas de um total de 28 mil que temos no País.
<b>E qual é o desafio agora?</b>
O desafio é não voltar aos vícios do passado, para aquela inércia em que cada um trabalhava no seu silo e a comunicação não ficava muito fluida. Na pandemia, nós fomos extremamente ágeis e nos falamos o tempo todo. E realmente houve delegação de tarefas. A pessoa mais próxima da ação sabe qual é a melhor decisão – e dar a ela o poder de tomar essa decisão faz com que ela trabalhe melhor. Ela não se sente um peão pouco importante em um jogo de xadrez. A grande pergunta é: será que vamos conseguir manter esse padrão? E a resposta eu só vou ter daqui a 6 meses ou 1 ano.
<b>Apesar da pandemia, a Nestlé vai conseguir crescer em 2020?</b>
Em 15 de março, todo o planejamento de 2020 teve de ser jogado no lixo. Houve uma disrupção muito grande. Tudo o que era consumo fora do lar – como o Nestlé Professional ou os serviços para empresas da Nespresso – ficou parado. A Páscoa também foi prejudicada, pois as pessoas não se reuniram como sempre fizeram nessa data. Enquanto isso, outras áreas ficaram absolutamente sobrecarregadas, como e-commerce. Então criamos uma missão colaborativa, em que pessoas foram requisitadas por áreas que tinham muito trabalho. E isso foi bom, porque ninguém ficou sem trabalho e muitos fizeram uma formação que não estava prevista neste ano. E isso se vê nos nossos resultados de 2020. Apesar de alguns segmentos terem sido prejudicados, no geral nós vamos crescer neste ano e ganhar market share (participação de mercado).
<b>A Nestlé faz cem anos de Brasil em 2021. O que vai marcar o centenário?</b>
Vamos fazer muitas ações ao longo do ano que vem. Mas não queremos só relembrar. Queremos falar de meio ambiente e de coisas importantes para a sociedade. Uma ação de reflorestamento na Bahia, em parceria com uma ONG, vai plantar 1 milhão de árvores. Em nossos produtos, vamos buscar redução de uso de plástico – já eliminamos, por exemplo, o que embalava as caixas de bombom. Só isso reduziu nosso consumo de plástico em 400 toneladas por ano. Além de reduzir o plástico, podemos também ampliar o uso de latas, que são embalagens muito ecológicas e já têm um sistema de economia circular.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>