Opinião

O dia em que encontrei com o Emerson Fittipaldi

Tinha uns cinco anos. Sei que é uma das lembranças mais distantes da minha infância. Incentivado pelo marido de uma prima, apaixonado por automobilismo, elegi o primeiro ídolo em minha vida: era Emerson Fittipaldi, que em 1972, conquistava pela primeira vez o campeonato mundial de Fórmula 1.


 


Nas brincadeiras entre os amiguinhos, eu deixava o Ernesto de lado. Dizia todo orgulhoso que me chamava Emerson. A bordo de uma motoca vermelha e branca, que antecedeu a primeira bicicleta, fazia vrummmm com a boca e acelerava forte entre os móveis da casa, para desespero da minha irmã mais velha, encarregada todos os dias da arrumação. Sei que eu não era um garoto bagunceiro. Mas demonstrava naquele momento uma pequena paixão pelos carros assim como pela bola, algo mais do que comum para crianças daquela idade.


 


Os anos passaram. Emerson se tornou bicampeão mundial de Fórmula 1, tornou-se um empreendedor ao lançar o primeiro carro brasileiro para correr na disputada categoria. Quase não dá para acreditar que os Copersucar, um dia, ganharam as pistas do mundo, comandados pelos irmãos Fittipaldi, Emerson e Wilsinho. Mais tarde, meu ídolo dos tempos de criança faturou importantes provas na americana Fórmula Indy, sagrando-se campeão inclusive da concorrida 500 milhas de Indianápolis. 


 


Nesse tempo, eu – muito ligado em Fórmula 1 – vibrava com as conquistas de Nelson Piquet e Ayrton Senna. A paixão pelas corridas se limitou a ser um mero espectador, como tantos milhões de brasileiros que não perdiam uma corrida aos domingos pela manhã ou mesmo nas madrugadas. Nunca esquecerei as noites viradas para ver Senna brilhar no asfalto de Suzuka. Eram tempos de universidade e a gente celebrava esses momentos com emoção.


 


Quando comecei a cobrir a área de automóveis, em minha primeira reportagem, conheci Ayrton pessoalmente no lançamento da Audi no Brasil. Foi em Interlagos, exatos 30 dias antes de sua morte. Como jornalista novato e cheio de princípios, não aproveitei a oportunidade para tirar uma foto ao lado do ídolo ou mesmo para pedir um autógrafo. Nunca gostei disso. Respeito quem goste, mas não é minha praia.


 


Semana passada, durante jantar que comemorou os 100 anos da Chevrolet, Emerson Fittipaldi estava aqui em Guarulhos para contar um pouco de suas experiências e ligações com a marca da gravata dourada. Desta vez, deixei de lado o orgulho e tive um momento de tiete. E pedi para ser fotografado ao lado dele. Enquanto posávamos, expressei: “Estamos ficando velhos. Quarenta anos atrás eu falava para todo mundo que me chamava Émerson. E era por sua causa”.


 


Ernesto Zanon


Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo


No Twitter: @ZanonJr

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