Mundo das Palavras

O dinheiro do ladrão

Em 1930, tenentes assumiram como interventores os cargos de governador em quase todos os estados brasileiros. Embalados por um movimento – o Tenentismo – que pregava, desde 1922, a moralização da administração pública no Brasil.


Sete anos depois Getúlio Vargas fechou o Congresso Nacional e passou ele próprio a designar os governadores. A ditadura varguista durou até 1947. 


Decorridos sete anos, no entanto, os políticos já estavam desacreditados, novamente. Eles foram mostrados, com ironia, como saúvas que corroíam o chão onde os brasileiros pisavam na música de maior sucesso do carnaval de 1954. Dizia o texto da música: “O Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil. Tem saúva na lavoura, tem saúva no quintal. Mas onde tem mais saúva é no Distrito Federal”. 


O sonho de se livrar destes políticos levou os eleitores a colocar na presidência da República, em 1961, Jânio Quadros. Em sua campanha ele tinha exibido a vassoura com a qual prometia varrer a sujeira da política brasileira. Renunciou seis meses depois.


Mais três anos se passaram, e, em 1964, a desconfiança com os políticos era tão grande que a classe média foi às ruas apoiar a implantação de outra ditadura militar. De novo, o Congresso Nacional foi fechado. Muitos políticos profissionais foram humilhados, presos, mortos.


Somente vinte e nove anos após, o Brasil, em 1993, por fim, voltou a ser plenamente governado pelos chamados representantes do povo. 


Passados dezoito anos, hoje, um cálculo assustador circula na imprensa. O do montante de dinheiro recolhido através de impostos, mas, apropriado por políticos que impedem a aplicação deles, em serviços destinados à população, nas áreas de saúde, moradia, educação, transporte, entre outras, como determinam as leis.


Segundo aquele cálculo, o dinheiro surrupiado teria sido algo em torno de 330 bilhões de reais, apenas em 2010. Nove por cento do PIB nacional daquele ano. Isto é, da soma de todos os bens e serviços produzidos no país no período, traduzida em valores monetários.


Para se avaliar a extensão deste rombo no orçamento nacional, basta lembrar que, em 2010, o total das verbas destinadas pelo Brasil à Educação foi de 80 bilhões de reais.


Portanto, se o cálculo for consistente, estes políticos estão querendo impor o maior dos impostos aos brasileiros já submetidos a toda espécie de tributação, no seu trabalho, na sua locomoção, no que consome. Aquele destinado a tal governabilidade do país. Sem ele a ambição destes políticos não seria aplacada. Eles não aprovariam as medidas necessárias à administração do país e empurrariam os brasileiros em direção a um novo caos social. Semelhante àqueles usados pelos militares, no passado, como justificativas para extinguir o regime democrático no Brasil.


Aqueles nove por cento do PIB seriam, então, o dinheiro do ladrão. O que entregamos para salvar um bem maior.


 


Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP

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