Ninguém pode ter
dúvidas de que a trajetória do Partido dos Trabalhadores teve grande influência
na descrença em todas as agremiações políticas expressa através das manifestações
de ruas ocorridas em dezenas de cidades brasileiras ao longo do último mês. Esta
descrença foi expressa pela parcela da população do país que vive nos centros
urbanos maiores com acesso às informações em circulação por variados meios de
comunicação. Privilégio que permitiu aos manifestantes mais jovens conhecer o
rumo tomado por aquele partido, diretamente através de jornais com conteúdos postados
na internet, e, indiretamente nas conversas mantidas com seus pais e
professores.
Há apenas pouco mais
de 30 anos, no PT se concentraram as esperanças de muitos brasileiros
amadurecidos politicamente nas lutas clandestinas contra a Ditadura Militar
Pós-1964, no exílio, na militância cristã solidária com os pobres, no
sindicalismo corajoso e ousado do ABC.
Estes grupos
heterogêneos se uniram para fundar o partido, movidos pela decisão de enfrentar
as desigualdades sociais e os danos causados pela falta de liberdade nos
extensos anos de autoritarismo, impostos pelos golpistas militares de 1964. O
partido parecia destinado a inaugurar uma nova fase da História Política do
Brasil. Através dele, certamente, não seria possível desmontar a velha e
corruptora estrutura econômica capitalista como sonharam fazer muitos jovens
brasileiros mortos pela repressão política da Ditadura. Mas, no mínimo, se
imaginava, ele iria higienizar os arraigados hábitos dos ambientes dominados
por conhecidas raposas políticas com poder de mando nas diversas regiões do
país.
A sucessão de
decepções com o PT, no entanto, desembocou na cena bizarra em que o seu
presidente mais poderoso, José Dirceu, foi atingido por bengaladas no Congresso
Nacional. O autor do atentado, um ancião, enquanto espancava o chamava pelo
nome de um personagem de ficção caracterizado pelo vilipêndio dos sonhos
alheios.
Em sua degradação, o
partido fez o que pôde para preservar uma única âncora, o ex-presidente Lula, lançada
sobre a outra imensa parcela da população, aquela sempre mais desassistida pelo
poder público. Esta âncora, contudo, se firmou no terreno de uma popularidade
obtida com programas sociais de eficiência apenas relativa. Por isto, pode afundar, a julgar pela ameaça
feita pelo próprio José Dirceu, quando soube da cassação de seu mandato, conforme
divulgou o jornalista Otávio Cabral, no livro “Dirceu”, recentemente lançado. Naquele
momento, Dirceu, após se queixar por não ter recebido sequer um telefonema de
consolo de Lula, ameaçou: “Dá vontade de começar a falar o que eu sei”.