Vamos aqui chamar uma pessoa qualquer de falante, para podermos mostrar o processo de criação de texto que acionamos, frequentemente sem termos consciência disto, naquela grande parte do tempo que ocupamos quando conversamos com alguém. Naquela parte do tempo na qual nos esforçamos para convencer nosso interlocutor. Não necessariamente sobre algo que consideremos um assunto relevante, como por exemplo, a existência de Deus. Às vezes, apenas para convencê-lo da consistência da conclusão a que ela chegamos sobre um filme ou o gosto de um sorvete.
Há, certamente, uma espécie de prazer despótico quando é bem sucedido o empenho que fazemos para que alguém passe a adotar um ponto de vista, antes, somente nosso. Mas este prazer pode também estar ligado ao alívio sentido por nós com a superação da angústia própria de quem conserva, solitariamente, uma opinião.
Os estudiosos das formas de estruturação dos textos – orais e escritos –, ao analisarem como procedemos para convencer outra pessoa, levam em conta a relevância atribuída por nós ao assunto que abordamos, assim como a nossa motivação íntima, quando o senso de relevância e a motivação podem ser compartilhadas pelo nosso falante.
A estes estudiosos, no entanto, interessa, sobretudo, a constatação de um fato: usamos sempre os mesmos elementos, aqueles próprios de um tipo de estrutura de texto. No caso, o do texto dissertativo ou argumentativo.
Sempre produzimos um fragmento de texto no qual concentramos nossa opinião, nosso ponto de vista, nossa tese – chamado de tópico frasal – e, outros fragmentos de textos destinados a dar fundamentação a ele.
Embora diversificadas, as pretensões de um falante argumentador, contudo, podem ser resumidas na busca de um único efeito, o da persuasão, diz Eduardo Guimarães, em “Texto e argumentação”.
Outra autora, Elisa Guimarães, em “A articulação do texto”, chama a atenção para a função essencial do componente lógico, integrado ao raciocínio desenvolvido pelo falante argumentador. Este raciocínio só será eficiente se tiver sentido – isto é, for compreendido – tanto para o próprio falante argumentador como para seu interlocutor.
Assim, no texto do falante argumentador se juntam a um componente lógico essencial um componente psicológico, e, frequentemente um componente de natureza sócio-cultural.
A lógica, ainda assim, pela relevância de que desfruta no texto argumentativo, requer que as partes dele tenham uma articulação ainda mais rigorosa do que os componentes dos textos narrativos e descritivos.
O raciocínio lógico é um dos dois esteios da estrutura do texto argumentativo, diz Othon Garcia, em “Comunicação
Garcia lembra que o filósofo Descartes considerava a evidência como critério da verdade. E que a evidência, para ele, é a certeza a que se chega pelo raciocínio fundado em provas, independentemente de qualquer interpretação baseada apenas numa teoria pré-existente.
Garcia acentua: só os fatos provam. Sem eles toda declaração é gratuita e pode ser contestada com facilidade.
Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP