Mundo das Palavras

O início da dissertação



O texto dissertativo é aquele que produzimos com o intuito de defender uma idéia, um ponto de vista. Na produção dele fazemos uso de dois elementos característicos da estrutura deste tipo de texto. O primeiro dos quais é o tópico frasal, o segmento de texto no qual concentramos nossa idéia, nosso ponto de vista.


Ao contrário do que muita gente supõe, esta idéia – ou este ponto de vista – não precisa necessariamente corresponder a uma tese acadêmica preparada para apresentação diante de uma banca examinadora constituída só de doutores. Na verdade, usamos, a todo instante, no nosso cotidiano, estes dois elementos pertencentes à estrutura do texto dissertativo.


Imaginemos uma conversa travada por um grupo de senhoras sobre seus respectivos filhos. Na conversa, uma das senhoras poderia, por exemplo, introduzir este tópico frasal: “A Ana, desde criança, sempre foi surpreendente”. Explicitado este ponto de vista sobre sua filha, para demonstrar a consistência dele, aquela mãe, num desdobramento natural da sua fala, iria apresentar fatos e testemunhas – depoimentos de pessoas que tivessem acompanhado a infância de Ana. Com isto, estaria produzindo o segundo elemento da estrutura de texto dissertativo: a fundamentação. 


         Tópico frasal e fundamentação são indispensáveis à criação deste tipo de texto. Mas não são os únicos elementos que podemos utilizar quando o criamos. Podemos sofisticar um pouco nossa dissertação, valorizando-a com o uso de mais dois elementos, uma providência muito útil, sobretudo na produção de textos escritos para avaliação de algum especialista, como ocorre, por exemplo, nos exames de candidatos a vagas nas universidades.  Porém, igualmente úteis, quando simplesmente queremos tornar mais interessante a defesa de uma ideia – ou de um ponto de vista – numa conversa, como aquela que imaginamos entre mães.


Um destes elementos introduzimos em nosso texto dissertativo – oral ou escrito – antes do tópico frasal. Funciona como uma abertura dele. O outro, inserimos no texto dissertativo, depois da sua fundamentação. Funciona como conclusão dele.


         Vamos nos ater inicialmente ao primeiro destes dois elementos, destacando as diversas possibilidades que ele nos oferece.


Um tipo de abertura muito empregado por nós, muitas vezes sem nos darmos conta disto, é aquele com a qual despertamos em nosso interlocutor sua curiosidade quanto àquilo que vamos dizer em seguida. Quantas vezes, antes de apresentarmos um ponto de vista sobre alguém familiar ao nosso interlocutor, não dizemos frases do tipo: “Você nem imagina o que pude concluir a respeito de fulano”?


Uma frase dita assim concretiza esta primeira possibilidade de criação de abertura de texto dissertativo. Ela, ao despertar curiosidade, também gera expectativa em relação a nosso ponto de vista, a nosso tópico frasal. Depois dela, tanto podemos dizer: “Fulano é um crápula”, como “Fulano é um gênio”. Nos dois casos, estaremos produzindo um tópico frasal. O qual, é claro, teremos de fundamentar com fatos e testemunhas, se quisermos torná-lo consistente.


Todos fazemos uso em nosso cotidiano desta possibilidade. Contudo, utilizam-na também jornalistas e escritores. Aprimorando-a, naturalmente.


 


Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP

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