Nas últimas semanas, o Japão vem enfrentando uma das maiores crises da sua história, em razão do terremoto e tsunami que arrasaram o país no último dia 11. Além dos racionamentos de água, energia e alimentos, fica a incerteza se o pior já passou. Mas o que chama a atenção neste momento caótico é o espírito de coletividade e respeito ao próximo que se vê por lá.
No meio deste caos, talvez era de se esperar o desespero e atitudes individualistas. Mas, diferente disso, até agora, nenhum episódio de saque ou briga foi registrado no país, uma situação bem oposta do que ocorreu ano passado no Haiti, que precisou da intervenção do Exército e de forças da ONU, e da cidade chilena de Concepción, que teve de decretar toque de recolher após quase todas as lojas da cidade terem sido roubadas.
O Japão vem dando o exemplo do que é enfrentar as dificuldades com sabedoria e um elevado grau humanitário. Talvez por motivos culturais, os japoneses sempre tiveram a educação de pensar e trabalhar em grupo, acima de tudo respeitar o próximo e não se apropriar daquilo que não lhe pertence e que, de alguma forma, faltará ao outro. Isto não quer dizer que por lá não haja casos diste tipo, mas são raros e isolados.
A cena mais comum é ver lojas limitarem a quantidade de produtos por pessoa, e ainda assim ver pessoas os consumidores, em meio ao caos, devidamente organizados em enormes filas sob o frio, todos esperando a sua vez.
A imprensa de todo o mundo vem destacando o fato de as ruas estarem limpas mesmo após uma tragédia de proporções dantescas. “Os japoneses se preocupam em reciclar lixo no meio de uma tragédia dessas. Na escola, aprendem a obedecer orientações das autoridades porque sabem que são orientações corretas. Isso não evita mortes e destruição, mas evita que seja uma tragédia ainda maior”, relatou o repórter da Rede Globo, Roberto Kovalick.
Outro fator é o poder de reação: aquilo que estiver errado pode e deve ser corrigido. Nos aeroportos doam-se lugares para os mais velhos, o respeito por eles continua como sempre foi de costume. Refletir sobre as causas e agir de modo correto no momento certo, libertar-se da ansiedade e obter paciência são cenas comuns. Todos parecem levar ao pé-da-letra um conhecido provérbio japonês: caia sete vezes, mas levante- se oito.
Talvez a verdadeira lição que podemos aprender com esse povo milenar seja de que existem coisas que estão muito acima do poder humano. A individualidade da vida moderna nos leva ao caos, e a coletividade nos faz reconstruir e gerar uma força que jamais imaginamos.
Julio Ganiko é massoterapeuta e especialista em terapias orientais, diretor do Spa Urbano Julio Ganiko, em Guarulhos
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