Tal compreensão da obra deste artista permite descobertas, como a feita, não por acaso, por Martinho Cardoso, membro de um grupo do Facebook, o “Chico Buarque Sem Censura”, neste link do Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=7JPaYkQh_1U
Trata-se de uma preciosidade de quase meio século. Cujo grande mérito é trazer um instantâneo da sufocante realidade político-social dos anos 70, através do destino dado a uma música de Chico – “Apesar de você”. É uma gravação que poucos conhecem porque, como aconteceu com a do próprio Chico, teve proibidas pela Censura da Polícia Federal sua venda e sua execução nas rádios.
Lançá-la no mercado discográfico, em 1971, foi uma atitude de coragem e desprendimento de Benito de Paula. Pois, os brasileiros suportavam o período mais duro da Ditadura Militar. Benito tinha, então, 30 anos de idade. E o disco “Benito di Paula”, para ele, era a primeira oportunidade de, literalmente, sair da obscuridade. Pois, vinha, havia anos, trabalhando como “cantor da noite”, em boates do Rio e de São Paulo. A oportunidade, embora muito aguardada, ele colocou em risco e a perdeu por causa da gravação da música de Chico. Mas a frustração não o acovardou. Três anos depois, casualmente, Benito cruzou, numa rua de São Paulo, com Geraldo Vandré – delirante, transformado num trapo humano. A impressão dolorosa deu-lhe coragem para enfrentar novo risco. Compôs e gravou “Tributo a um rei esquecido” em homenagem ao colega. A Censura da Polícia Federal, mais uma vez, proibiu tanto a divulgação, como a venda da gravação, por causa da letra escrita por Benito: “Ele foi um rei. / E, brincou com a sorte. /Hoje ele é nada. / E, retrata a morte. /Ele passou por mim, mudo e entristecido. /Eu quis gritar seu nome. / Não pude. /Ele olhou pra parede. / Disse coisas lindas/ Disse um poema / Para um poste. / Me veio lágrimas/ O que foi que fizeram com ele? / Não sei. / Só sei que esse trapo, esse homem, foi um rei”.
Hoje, no Youtube, há outra preciosidade, produzida com esta gravação, no link:
Um vídeo no qual ela está ilustrada com imagens que reconstituem a atormentada história de Vandré. Na penúltima, aparece este poema de Bertold Brecht: “Vós, que vireis na crista da onda em que nos afogamos, / quando falardes de nossas fraquezas, / pensai, também, / no tempo sombrio a que haveis escapado”. E, na última, Vandré, ainda no seu exílio, na França canta versos de “Caminhando”.