Estadão

O legado de Jeff Beck, lenda que venceu os limites do jazz e do Rock

"Jeff era uma pessoa tão legal e um excelente guitarrista, icônico e genial – nunca haverá outro Jeff Beck", escreveu Tony Iommi, guitarrista do Black Sabbath, no Twitter – um dos vários tributos ao músico que morreu na terça, 10, aos 78 anos, após "contrair repentinamente meningite bacteriana", informou na quarta um comunicado de seus representantes. Ele deixa sua mulher, Sandra.

Beck ultrapassou os limites do blues, jazz e rock, influenciando gerações e se tornando conhecido como "o" guitarrista entre os guitarristas. Ganhou destaque pela primeira vez nos Yardbirds e depois seguiu carreira solo que incorporou hard-rock, jazz, funky blues e até ópera. Era conhecido por sua improvisação e o amor pelos harmônicos de sua guitarra preferida, a Fender Stratocaster.

"Jeff Beck é o melhor guitarrista do planeta", disse Joe Perry, guitarrista do Aerosmith, ao <i>The New York Times</i> em 2010. "Ele é cabeça, mãos e pés acima de todos nós, o tipo de talento que só aparece uma vez a cada geração ou duas."

Beck já estava no panteão de guitarristas de rock do final dos anos 1960, que incluía Eric Clapton, Jimmy Page e Jimi Hendrix. Ganhou oito prêmios Grammy e foi indicado para o Rock and Roll Hall of Fame duas vezes – uma delas com os Yardbirds em 1992 e como artista solo em 2009.

Ficou em quinto lugar na lista da Rolling Stone dos "100 Maiores Guitarristas de Todos os Tempos". Em seu Twitter, Jimmy Page escreveu, na quarta-feira: "Jeff poderia canalizar a música do etéreo". Ele tocou guitarra com vocalistas tão variados quanto Luciano Pavarotti, Macy Gray, Chrissie Hynde, Joss Stone, Imelda May, Cyndi Lauper, Wynonna Judd, Buddy Guy e Johnny Depp. Ele fez dois discos com Rod Stewart – Truth, de 1968, e Beck-Ola, de 1969 – e um com uma orquestra de 64 músicos, Emotion & Commotion.

"Gosto de um elemento de caos na música. Esse sentimento é a melhor coisa de todas, contanto que você não exagere. Tem de estar em equilíbrio. Acabei de ver o Cirque du Soleil e me pareceu um completo caos organizado", afirmou ele à <i>Guitar World</i> em 2014. "Se eu pudesse transformar isso em música, não estaria muito longe do meu objetivo final, que é encantar as pessoas com caos e beleza ao mesmo tempo."

Os destaques da carreira de Beck incluem a união com o baixista Tim Bogert e o baterista Carmine Appice para criar o power trio que lançou Beck, Bogert and Appice em 1973, turnês com Brian Wilson e Buddy Guy e um álbum tributo ao falecido guitarrista Les Paul, Rock n Roll Party, de 2011.

Os créditos do álbum de Beck incluem Talking Book, o álbum de referência de Stevie Wonder de 1972. Seu solo de guitarra carinhosamente executado na balada Lookin For Another Pure Love rendeu a ele um caloroso "Do it Jeff" de Wonder que foi incluído na edição do álbum.

<b>Infância</b>

Geoffrey Arnold Beck nasceu em 24 de junho de 1944, em Surrey, Inglaterra, e frequentou o Wimbledon Art College. Seu pai era contador e sua mãe trabalhava em uma fábrica de chocolate. Ainda menino, construiu seu primeiro instrumento, usando uma caixa de charutos, um porta-retrato para o pescoço e um cordão de avião de brinquedo controlado por rádio.

Ele esteve em algumas bandas – incluindo Nightshift e The Tridents – antes de ingressar no Yardbirds em 1965, substituindo Clapton, mas dando lugar a Page apenas um ano depois. Durante sua gestão, a banda criou singles memoráveis: Heart Full of Soul, I m a Man e Shapes of Things.

O primeiro single de sucesso de Beck foi Beck s Bolero, de 1967, que apresentava os futuros membros do Led Zeppelin, Page e John Paul Jones, e o baterista do The Who, Keith Moon. O Jeff Beck Group, com Stewart cantando, foi agendado para tocar em Woodstock em 1969, mas sua apresentação foi cancelada.

<b>Com Hendrix</b>

Ele era amigo de Jimi Hendrix e os dois se apresentaram juntos. Antes de Hendrix, a maioria dos guitarristas de rock se concentrava em um estilo e vocabulário técnico semelhantes. Hendrix explodiu isso. "Ele veio e redefiniu todas as regras em uma noite", contou Beck à revista Guitar World. Depois, ele se juntou ao lendário produtor George Martin – conhecido como "o quinto Beatle" – para ajudá-lo a moldar o clássico jazz fusion com a fusão de gêneros em Blow by Blow (1975) e Wired (1976). Ele se uniu a Seal no tributo a Hendrix, Stone Free. O trabalho de guitarra de Beck pode ser ouvido nas trilhas sonoras de filmes como O Poder do Ritmo, O Amor É Cego, Cassino, Lua de Mel a Três.

A carreira de Beck nunca atingiu os picos comerciais de Clapton. Perfeccionista, preferia fazer discos instrumentais bem recebidos pela crítica e deixava os holofotes por longos períodos, para restaurar carros antigos.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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