Uma pessoa refinada sabe o quanto vale o silêncio. Infelizmente, numa sociedade estridente como a nossa, ele se torna um luxo reservado para poucos. Não é à toa que os verdadeiramente ricos instalam suas residências fora das grandes cidades nas quais desenvolvem suas atividades, empregando um meio de transporte caro como é o helicóptero para encurtar o tempo dos seus deslocamentos.
O barulho urbano, do qual eles fogem, é uma espécie de música concreta, típica de nossa época. Muitas vezes surge como uma triste sinfonia executada, nervosamente, por motoristas cujos carros se imobilizam nos congestionamentos.
A buzina, nesta situação, é usada por eles, com iguais doses de agressividade e desespero, na transmissão de uma mensagem imposta aos ouvidos do seu destinatário por seus altos decibéis.
Com a buzina se busca uma comunicação caracterizada pela renúncia absoluta à sutileza que se mostra tão eficiente no convívio das pessoas, em outras situações. Esta sutileza, hoje, se constitui em campo de estudos dos pesquisadores das linguagens não verbais.
Na área deles se pode observar como a absoluta falta de ruídos – até mesmo dos ruídos provocados pela simples emissão de fonemas numa comunicação feita através de palavras – pode propiciar a transmissão das mais expressivas mensagens.
Martha Steinberg, por exemplo, mostra que, com um olhar, uma pessoa pode advertir e inquirir outra pessoa, no seu livro “Os elementos não-verbais da conversação”. Pode ainda – diz Martha – expressar desprezo, raiva, indiferença.
Outra pesquisadora, Flora Davis, ressalta o valor da leitura do rosto de um indivíduo na busca do entendimento da exteriorização dos sentimentos dele, em “A comunicação não-verbal”.
No rosto de qualquer um de nós podem surgir mais de mil expressões, do ponto de vista da anatomia humana, diz Davis. E estas expressões revelam entusiasmo, concordância, desconfiança, prazer, pesar, complementa Steinberg.
As possibilidades de transmissão e de captação de mensagens humanas estudadas pelos pesquisadores mencionados ficam, obviamente, ameaçadas nos ambientes dominados por barulho. Porque o barulho nos desconcentra, impedindo nosso acesso ao universo sutil das linguagens não-verbais.
Por isto, o silêncio não pode ser um privilégio dos endinheirados. Pois, dele necessitamos todos. Sobretudo, aqueles que entre nós, são poetas e pensadores.