Mundo das Palavras

O palhaço Tiririca provoca medo

Há décadas, as comédias do cinema mudo norte-americano trouxeram para o Brasil um humor gerado sempre com o apelo a algum tipo de violência física.

 Este recurso reapareceria, depois, um pouco, nos filmes de Charlie Chaplin, e, muito, nos dos Três Patetas. A cena engraçada trazia, no mínimo, um escorregão do personagem mau, estatelado no chão. Um chute no traseiro, como os que Carlitos aplicava nos guardas distraídos. Ou uma martelada na cabeça, para a qual apelavam os Três Patetas.


 


A presença de agressões físicas no humor de velhos filmes norte-americanos, depois ampliada, ao extremo, nos do gênero faroeste, está inteiramente mantida na produção cinematográfica dos Estados Unidos, hoje. É algo, aparentemente, ligado à cultura daquele país. Afinal, nele, defender com arma na mão o próprio domicílio é um ato considerado absolutamente legítimo.


 


Esta associação entre violência e humor certamente contribui para a existência de um fenômeno pouco estudado no Brasil, cuja denominação, não por acaso, foi originada numa palavra (clow) ligada a palhaço, na língua inglesa. A “coulrofobria” é um termo psiquiátrico com o qual se designa o medo dos palhaços, adquirido na infância, em decorrência de alguma experiência emocional traumatizante. Explica Marcos Nogueira no texto “Vade-retro, Bozo”, divulgado para um público – o juvenil – com lembranças ainda intensas da infância, o da Revista Superinteressante, em março de 2008: “Os portadores dessa fobia tem ataques de pânico, perda de fôlego, arritmia cardíaca, suores e náuseas”.


 


Num site voltado para este mesmo público, foi postada uma descrição da lembrança da vivência de “coulrofobia”. O site “Aventureiro do Desconhecido é alimentado com textos de jovens que se identificam simplesmente como CRS, Ricardo Ripper, Alex Agamenon, Rochagear, e, Juggernalt.


Numa festa de aniversário infantil – narra o autor do texto do site: “A mesa está repleta daqueles docinhos que a mamãe só deixa comer de vez em quando. Eis que a porta se abre e ele surge. Aquele ser disforme, assustador! Seus pés gigantes e desajeitados parecem que querem esmagar o mundo. Suas roupas largas escondem o seu corpo inumano. Seu rosto assustador e deformado faz gelar seu coração. Sua boca escancarada, toda lambuzada de vermelho. Seus cabelos desgrenhados. Ah! Droga! Ele vem p´ra cima de você!”.


 


Esta experiência assustadora, descrita por um jovem do site, não é muito diversa daquela provocada pelo palhaço Tiririca em profissionais que trabalham na cobertura jornalística da área política, nesta campanha eleitoral.  Tiririca é, nestas eleições, o Coringa do filme “Batman”, o palhaço de brinquedo de “Potergeist”, capaz de agredir o direito ao voto consciente, útil, ponderado, dos paulistas. Diz, por exemplo, Eliane Cantanhêde na Folha de S. Paulo, no dia 24 de agosto: a campanha eleitora “virou um circo dos horrores”. Eliana menciona “o Tiririca, com sua peruca loura, sua fantasia ridícula, seu discurso desconexo”. Já Fernando de Barros e Silva, na mesma edição do jornal, preocupado, alerta a respeito do palhaço: “Sua galhofaria se destina a eleger uma boa bancada de rinocerontes do PR, antigo PL, partido do mensaleiro, e, também candidato, Valdemar Costa Neto”.  


 


Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP


    

Posso ajudar?