Mundo das Palavras

O Papa brasileiro

Os brasileiros, com sua irreverência típica, ousam dizer, brincando, que Deus nasceu no Brasil. O que, aliás, fazem também os franceses, embora eles sejam conhecidos entre nós como um povo ranzinza, mal-humorado, características que exibem, sobretudo, diante dos turistas estrangeiros invasores de suas ruas, em Paris. De qualquer forma, entre eles há aquela velha invocação: “Ó meu Deus da França!”.


Os brasileiros, no entanto, agora, também começam a alimentar outra pretensão, nada modesta. A de que o próximo Papa seja igualmente um patrício nosso.


Com Deus e o novo Papa brasileiros, talvez nós nos tornemos melhores, nesta “terra descoberta por Cabral”. Os nossos políticos possivelmente criem pudor e deixem de roubar tanto. A violência urbana diminua através de  melhorias na saúde, na educação, na moradia e nos empregos oferecidos à nossa população.


Melhor ainda: quem sabe a nossa alegria – capaz de sobreviver até mesmo à delinquência dos políticos e à agressividade daqueles que são abandonados pelos governantes – se espalhe pelo mundo.


A própria Igreja Católica seja contagiada pela nossa cultura e se livre dos padres que não respeitam as crianças, ensinando-os a tratá-las como nossos índios fazem em suas tribos, com carinho e paciência.


Fora da Igreja, quem sabe, os judeus e palestinos decidam transferir para os campos de futebol os seus confrontos. A Coréia do Norte relaxe, saia da ordem unida em que é mantida e invente um novo Carnaval.  Quem sabe, os Estados Unidos controlem seus ímpetos de dominar o mundo. Suspendam o bloqueio econômico que obriga Cuba a permanecer  o tempo todo em prontidão, há meio século, como se uma nova invasão militar pudesse acontecer a qualquer momento.  E os cubanos possam voltar a dançar livremente sem o governo autoritário que os inibe.


E, assim sucessivamente, quem sabe, todos os países se transformem em rincões habitados por pessoas tolerantes e decentes, dispostas a usar a cota de tempo de que cada ser humano dispõe na busca do prazer e da amizade, com o talento que nós brasileiros temos para isto.


No Brasil, como registra outro antigo ditado, há outra peculiaridade: a esperança é a última que morre. Por isto, ela precisa resistir até mesmo às notícias preconceituosas vindas da Europa: a de que o cardeal de São Paulo – aquele cogitado para ocupar o lugar de Bento XVI – tem possibilidades de ser eleito porque fala italiano, tem “aparência nada latina” e usa sobrenome alemão. Afinal, nada disto o impede de ter uma alma brasileira, como a nossa, não é mesmo?     

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