Mundo das Palavras

O Papa, Darwin e o Big Bang

Repercutiu intensamente na imprensa mundial o discurso feito, há poucos dias, pelo Papa Francisco, na Pontifícia Academia das Ciências, em Roma, no qual, ele afirmou que duas das mais importantes teorias, aceitas por grande parte da comunidade científica, a do Big Bang e da Evolução, não contradizem o Cristianismo.
 
A primeira destas teorias sustenta que o universo está em constante expansão e que, 13,7 bilhões de anos atrás, devia estar todo concentrado em um único ponto a partir do qual teve inicio a formação de suas galáxias, desde então, cada vez mais distantes umas das outras. A expressão Grande Explosão, em inglês, se refere a este momento inicial no qual teria ocorrido uma grande liberação de energia. A teoria – note-se – se limita a descrever a evolução geral do Universo desde aquele momento. 
 
Já a Teoria da Evolução está associada às evidências apresentadas pelo naturalista britânico Charles Darwin, em 1859, de que a diversidade biológica encontrada na natureza resulta de um processo de descendência entre os organismo vivos, durante o qual eles são modificados e selecionados pelas imposições de adaptação ao meio ambiente. Através de uma seleção natural – diz-se -, “como galhos de uma grande árvore, a árvore da vida”, as espécies se ramificam sucessivamente a partir de formas ancestrais. 
 
No seu discurso o Papa não fez uma referência direta ao darwnismo. Restringiu-se à Teoria da Evolução, um desdobramento atual daquilo que o naturalista britânico apresentou, há um século e meio. A atualização de Darwin leva à visão da  evolução das espécies como resultante de qualquer alteração no número ou num conjunto de genes, em uma população de seres vivos, ao longa das suas gerações.
 
Para muitos católicos bem informados que sentiam suas inteligências violentadas pelos conflitos existentes entre as teorias do Big Bang e da Evolução e as explicações retiradas da Bíblia, nos seus trechos referentes às criações do mundo e do homem, o discurso do Papa Francisco certamente trouxe conforto. No entanto, há muito tempo, a parcela mais ilustrada da Igreja Católica recusa a atribuição à Bíblia de funções próprias da literatura científica, salientando sempre o caráter simbólico, portanto não literal, de sua linguagem, e, susceptível de interpretações variadas. Disto, decorre que sempre será possível interpretar a Bíblia de modo a harmonizá-la com os avanços científicos. Por exemplo, não é nova a visão católica da ação divina na criação da humanidade, segundo a qual, ainda que Deus não tenha criado o homem tal como o conhecemos, teria sido obra Dele a primeira célula do primeiro organismo vivo de cuja evolução ele resultou.
 
Indiscutivelmente o discurso do Papa foi apaziguador de conflitos intelectuais, entre os católicos, contudo, é óbvia, também, a falta de sentido na procura de apoio em teorias científicas à fé cristã. Pois o que é mais caracterísico numa fé religiosa é exatamente o fato de se constituir numa crença em algo independentemente de comprovações objetivas. De outro modo, não seria fé.  
    

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