Opinião

O perigoso clima de violência em torno das campanhas


Desde 1989, quando ocorreram as primeiras eleições diretas após o período de ditadura militar, nenhuma outra disputa – como a atual – lembra aquela em que o agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disputou o segundo turno contra o Fernando Collor de Mello, que concorria pelo PRN (Partido da Renovação Nacional). Na época, tudo era novidade: debates, campanhas truculentas, agressivas, ataques pessoais a perder de vista. Artistas cantavam em coro um Lula-lá, como forma de tentar reverter a tendência de assistir a vitória de um desconhecido, que fez uma campanha baseada em recursos financeiros e apoiado em um esquema de marketing pessoal nunca antes visto no País.


Apesar do equilíbrio que se via nas vésperas do segundo turno, Collor não economizou esforços para derrubar Lula. O golpe final ocorreu no último debate, transmitido ao vivo pela Rede Globo. Na ocasião, o candidato do PRN tirou da manga o fato de Lula ter tido uma filha fora do casamento. O ataque de cunho pessoal obteve grande repercussão, sendo fundamental para sua vitória. A população, na ocasião, ignorou as propostas para o País e priorizou questões menores que envolviam a vida dos candidatos.


Na semana final, a militância de Collor foi para as ruas pronta para tudo. Foram diversos os confrontos, em diferentes situações, por todo o Brasil. O próprio candidato, que se mostrava destemperado quando acuado, xingava, gritava e até, se precisasse, saia no braço. Fazia parte da imagem que tentava construir de força e determinação.


Collor se elegeu e, logo na primeira semana de mandato, confiscou a caderneta de poupança da população. Na época, com inflação galopante, essa era uma das únicas defesas que os brasileiros tinham. Qualquer recurso, até o salário, ia para o banco como forma de não ser consumido rapidamente pela inflação. Não deu certo. Pouco tempo depois, Collor foi defenestrado do governo, envolvido em escândalos de corrupção.


Passaram 21 anos e outras quatro eleições presidenciais até chegar nesta quinta, em que Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) tentam chegar ao poder. Em nenhuma dessas, entretanto, o clima esquentou tanto como a de agora, em que os dois repetem um pouco daquela disputa entre Collor e Lula. Só que em papéis invertidos. Hoje, o presidente segue o estilo “bateu, levou” de seu ex-oponente Collor que, por essas circunstâncias da vida política, é seu aliado. Parece disposto a tudo para fazer sua candidata vitoriosa.


A uma semana das eleições, Dilma segue como franca favorita, segundo as pesquisas de opinião. Mas ainda há dois debates (segunda-feira na Record e sexta-feira na Globo), além de muitas andanças pelo Brasil e campanha de rua, proporcionada pelas militâncias das duas forças. Na semana que termina, a agressão sofrida por Serra no Rio de Janeiro – e o mau uso do episódio por Lula e Dilma – demonstrou que os ânimos seguem exaltados. Dilma, em visita a Guarulhos, não conseguiu controlar a própria militância petista, sendo obrigada a abreviar sua caminhada.


Qualquer passo em falso, dos dois lados, pode soar como munição de guerra para o adversário. Ao eleitor, recomenda-se discernimento para entender a importância de votar bem.

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