Da chegada à presidência de sua nação até a cassação de seu mandato pelo Congresso, por “incapacidade mental para governar”, menos de seis meses depois, que caminho percorre um político? A resposta está na carreira de Abdalá Bucaram.
No dia 10 de agosto de 1996, ele assumiu o governo do Equador, com um mandato que se estenderia até 2000. Durou naquela função exatos cincos meses e vinte e cinco dias. Preenchidos por ele com ações confusas, ineficientes, e, suspeitas. Numa única predisposição clara, a de beneficiar empresários. Traindo, deste modo, eleitores até então crentes nas suas promessas de campanha de pôr fim aos privilégios de poderosos.
Abadalá demorou 113 dias para apresentar um plano de governo. Quando o plano se tornou conhecido, escancarou uma série de medidas antipopulares, justificados pelo propósito de “reduzir o peso do Estado na economia”. Logo, os equatorianos sentiram os efeitos das privatizações de empresas públicas. Aumentos de preços atingiram serviços básicos, como os de gás e telefones. Quando chegou aos combustíveis, a indignação popular aumentou. Abadalá passou esmagar qualquer setor social capaz de se rebelar.
O desempenho dele não teria sido tão desastroso se até na escolha dos membros de seu ministério não tivesse cometidos erros grassos. Por exemplo, a área da Educação foi entregue a uma ministra – Sandra Isabel Correa Leon – alvo de acusações graves. E, ainda a de ter inserido no seu currículo oficial um título de doutora falso.
Para se impor, Abdalá assumiu o papel de messias voluntarioso. Mas isto o levou a ter comportamentos chocantemente inapropriados para seu cargo. Como o de ofender um antecessor, chamando-o de burro. E, depois, pedir desculpas … ao animal. Contra a dignidade do povo equatoriano, ele cometeu ofensa mais séria. Ao valorizar com sua presença um grotesco concurso de beleza no qual é escolhida a “Miss Banana Universal”, um tipo de evento que só reforça a pecha de “Repúblicas das Bananas” atribuída nos Estados Unidos ao Equador e outros países de sua região, vistos preconceituosamente como nações afetadas por instabilidade política devido à corrupção de governantes opressores e submissos aos norte-americanos. Até uma espécie de homenagem à violência doméstica, ele fez, em outra ocasião, na qual convidou para almoçar em seu palácio Lorena Babbitt, famosa por ter cortado o pênis de seu marido.
Tudo isto – e mais o acobertamento às atividades obscuras de seu filho “Jacobito”, de 21 anos, que acumulou um milhão de dólares, naquele pouco tempo de governo – contribuiu para que as Forças Armadas, (também alvo de ofensas cometidas com a participação de Abdalá), se mantivessem neutras, quando o Congresso decidiu cassar seu mandato, por desequilíbrio mental, empurrando-o, depois, para um exílio no Panamá.
(Na ilustração, Abdalá, em primeiro plano, voltado para o grupo de manifestantes que o hostilizam numa rua