Vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2020 por seu trabalho de combate à fome, o Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês) foi criado em 1961, após um apelo do presidente americano Dwight Eisenhower durante a Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) daquele ano, para a formação de um "esquema para prover assistência alimentar através do sistema das Nações Unidas".
Décadas depois, o WFP coleciona participações em socorro à emergências globais, com foco no atendimento de populações em zona de conflito ou atingidas por catástrofes.
O trabalho do programa é pautado pelo 2º Objetivo Global Para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) – erradicar a fome, promover a segurança alimentar e melhorar a nutrição da população global. As ações são voltadas primeiramente para comunidades vulneráveis – dois terços delas, em áreas de conflito. Levantamentos da própria organização apontam que 15 bilhões de refeições são distribuídas pelo programa anualmente.
"A entrega do Prêmio Nobel da Paz ao Programa Mundial de Alimentos (WFP) é um reconhecimento humilde e comovente do trabalho dos funcionários do WFP que arriscam suas vidas todos os dias para levar comida e assistência para cerca de 100 milhões de crianças, mulheres e homens famintos em todo o mundo. Pessoas cujas vidas são frequentemente dilaceradas brutalmente pela instabilidade, insegurança e conflito", afirmou David Beasley, diretor executivo da órgão.
Beasley também destacou o caráter multilateral do programa, que atua em parceria com governos, organizações e parceiros do setor privado para implantar suas ações. "Não poderíamos ajudar ninguém sem eles. Somos uma agência operacional e o trabalho diário de nossa equipe é impulsionado por nossos valores fundamentais de integridade, humanidade e inclusão."
Além da situação crítica de muitas das regiões atendidas, a abrangência do programa por si só representa um desafio logístico. Em 2019, por exemplo, o Programa de Alimentos da ONU promoveu ações em 88 países, espalhados pelos cinco continentes.
Em 2020, a pandemia do novo coronavírus criou dificuldades adicionais. O fechamento de fronteiras – parte das medidas de contenção – e o empobrecimento da população em diversos países, provocado pela perda de empregos, exigiu ainda mais iniciativas.
<b>Como o WFP trabalha</b>
Além de entregar alimentos, o WFP atua em outros pilares estratégicos, como garantir condições de infraestrutura para permitir o escoamento da produção no contexto interno dos países, incentivo ao cultivo sustentável e ao não desperdício de alimentos.
Durante essa semana, por exemplo, a WFP começou a apoiar o programa nacional de proteção social de Gana, com transferência de verba para auxiliar 75 mil trabalhadores e pequenos agricultores afetados pela pandemia para que possam manter suas necessidades de segurança alimentar e nutricional.
"A segurança alimentar e a nutrição são duas áreas que muitas vezes são abrangidas durante crises socioeconômicas, como a que está ocorrendo durante esta pandemia de covid-19", disse Rukia Yacoub, representante do programa em Gana. "Uma proteção social bem direcionada diminui o impacto nos mais pobres, protege-os da miséria econômica e evita a erosão completa dos ganhos de longo prazo no desenvolvimento humano."
<b>Eventos históricos</b>
Ao longo dos quase 60 anos de existência, o órgão atuou em diversas crises internacionais. A estreia do programa em campo ocorreu em 1962, em uma ação de resposta a um terremoto no Irã, que deixou 12 mil mortos. Na época, o recém-constituído fundo multilateral enviou 1.500 toneladas de trigo, 270 toneladas de açúcar e 27 toneladas de chá ao país asiático.
O primeiro programa de longa duração começou em 1963, após o deslocamento de 50 mil pessoas para a construção da barragem de Aswan, em um trecho do rio Nilo no sul do Egito. Por quatro anos, o WFP forneceu auxílio alimentar aos deslocados, além de cooperação técnica para o plantio e colheita das primeiras safras em suas novas terras.
Na década de 1980, o programa levou mais de 2 milhões de toneladas de alimento para a Etiópia em uma das maiores crises humanitárias da história recente. Na década de 1990, uma das atuações mais marcantes foi durante as guerras de separação da antiga Iugoslávia.
"Onde há conflito, há fome. E onde há fome, frequentemente há conflito. Hoje é um lembrete de que segurança alimentar, paz e estabilidade caminham juntas. Sem paz, não podemos alcançar nosso objetivo global de fome zero; e enquanto houver fome, nunca teremos um mundo pacífico", disse David Beasley em seu pronunciamento sobre a premiação com o Nobel da Paz.