No Grêmio desde o início desta temporada, Luis Suárez tem seu futuro no Brasil – e no futebol – incerto. Nas últimas semanas, o atacante uruguaio tem se queixado de dores no joelho direito, que se tornaram mais frequentes nos últimos dias. Ele busca realizar um tratamento e até já pediu para consultar seu médico particular na Espanha, dos tempos de Barcelona. O Grêmio não tem outro jogador como ele no elenco. Por isso, ele ainda continua atuando. O técnico Renato Gaúcho sabe dos problemas. Disse isso em uma de suas entrevistas.
Aos 36 anos, Suárez tem contrato com o Grêmio até dezembro de 2024 e, em seu vínculo, há uma multa de 70 milhões de euros (R$ 370 milhões) caso decida deixar o clube antes da hora. O Grêmio buscou no mercado parceiros para bancar seus vencimentos, estimado em R$ 1,5 milhão por mês. Nas últimas semanas, tanto o jogador quanto Alberto Guerra, presidente do clube, reiteraram o desejo de que o contrato seja cumprido. No entanto, os rumores de uma contusão e do fim de sua carreira aumentam.
Além das dores no joelho, que são frequentes ao longo da carreira, há o interesse do Inter Miami, novo time de Messi na Major League Soccer (MLS), dos EUA. Messi e Suárez foram companheiros no Barcelona, entre 2014 e 2020, tornaram-se amigos e editaram parceria com Neymar, que rendeu o apelido MSN – em referência às iniciais do nome de cada um.
"É falso, é impossível (disse sobre sua saída). Estou muito feliz no Grêmio e tenho contrato até 2024", disse Suárez ao jornal Observador, do Uruguai, após ser questionado sobre a possibilidade de deixar o País. No último jogo, em goleada de 5 a 1 sobre o Coritiba, Suárez pediu para ser substituído pelo técnico Renato Gaúcho; ainda no banco de reservas, iniciou um tratamento preventivo no joelho. Ele anotou um gol e deu outra assistência naquela partida.
Com dores no joelho e uma proposta dos EUA, seu estafe queria que Suárez realizasse o tratamento em Barcelona com Ramón Cugat, médico que é referência em tratamento de lesões no joelho e já tratou o atacante no passado. De acordo com o jornal uruguaio Ovación, o Grêmio insistiu em um tratamento mais conservador no Brasil, para que Suárez não fique fora de ação por um longo período. Nesta quinta-feira, o presidente do clube afirmou que o atacante viajará, de fato, à Espanha.
"É um campeonato muito forte, com uma logística muito pesada, jogos muito combativos, ele apanha muito nos jogos e precisa fazer um esforço tremendo para um jogador da idade dele. Todos os jogadores convivem com a dor, mas é fato que ele gostaria de consultar com seu médico na Espanha. O Grêmio concorda, pois é uma relação entre médico e paciente. Aceitamos e a questão é achar um melhor momento para fazer isso", afirmou Guerra.
Renato não escondeu seu desânimo ao comentar recentemente sobre o atacante uruguaio. "É um assunto delicado (a questão do Suárez), só quem está aqui dentro sabe o que temos conversado. Falo bastante com a diretoria, com Suárez também. Certas coisas a gente procura segurar, cada um tem uma opinião lá fora. Tem muita coisa ainda para acontecer, lá na frente posso falar, mas tem muita coisa acontecendo, sim", comentou o treinador logo após a partida contra o Coritiba pelo Brasileirão nesta semana.
"Ele tem dores no joelho e tem outras coisas acontecendo, mas aí foge de mim, é da diretoria com o jogador. Espero que as coisas possam se resolver da melhor maneira para que a gente continue tendo o Suárez no time", disse Renato.
De acordo com a imprensa uruguaia, não está descartada uma aposentadoria do uruguaio. Também de acordo com jornal gaúcho Zero Hora, Suárez sofre de uma artrose no joelho direito. Trata-se do desgaste da cartilagem que reveste as articulações. Ele não confirmou sua situação, mas o presidente do clube classificou a lesão como grave.
"Ele tem possibilidade de botar prótese, o negócio é grave. Muita injeção, muito medicamento. Vai chegando no limite (do corpo), mas quando é o limite, quando é o último dia, a gente não sabe", disse Guerra.
A situação cria instabilidade nos bastidores do Grêmio. Paulo Caleffi, vice-presidente de futebol do clube, discutiu com jornalistas após o jogo com o América-MG por causa da notícia de que Suárez poderia antecipar a aposentadoria por causa de dores crônicas no joelho e atacou um repórter da Rádio Guaíba. Ele foi demitido nesta quinta-feira do Grêmio.
IMPACTO DE SUÁREZ NO GRÊMIO
Após passar mais de uma década no futebol europeu, Suárez retornou à América do Sul, em 2022, para defender o Nacional, do Uruguai, onde foi revelado. Desde janeiro, aceitou o projeto apresentado pela diretoria gremista para atuar pelo clube, que acabara de se promover à primeira divisão do Brasileiro. Como resultado esportivo, conquistou o Campeonato Gaúcho diante do Caxias. Fora do campo, impulsionou o programa de sócio-torcedor do clube: em abril, o clube contava com pouco mais de 95 mil membros.
Suárez representa o futebol uruguaio, que voltou ao ápice do futebol mundial na última década. Em 2011, liderou, ao lado de Diego Fórlan, a equipe na conquista da Copa América; um ano antes, protagonizou um dos lances mais emblemáticos das Copas ao defender com as mãos, em cima da linha, e evitar gol de Gana, que ajudou a classificar a seleção à sua primeira semifinal desde 1970.
"Essa forma que Suárez vê e sente o jogo fez com que ele se tornasse protagonista por onde passou e o transformou no melhor jogador da história do futebol uruguaio", conta Juan Pablo Romero, jornalista uruguaio e editor do Ovación. "Como pessoa, é respeitoso e nunca perdeu sua essência ao longo de sua carreira", diz o jornalista. "O retorno de Suárez ao país reanimou o Campeonato Uruguaio e deu alegria aos torcedores. Hoje, ele está contente no Grêmio. Não pensa na possibilidade de deixar o Brasil para ir ao Inter Miami." Principal atacante do Grêmio na temporada, Suárez soma 16 gols e nove assistências em 28 jogos.
HISTÓRICO DE LESÕES DE SUÁREZ
Ainda na Europa, os problemas de Suárez no joelho direito se iniciaram em 2014, um mês antes da Copa do Mundo no Brasil. Ele passou por cirurgia e artroscopia para corrigir uma lesão no menisco. Conseguiu atuar na competição, mas ficou fora da estreia do Uruguai, na derrota para a Costa Rica.
Desde então, os problemas se tornaram mais frequentes. No Barcelona, passou por diversas artroscopias, entre 2017 e 2020. No Nacional, onde retornou em 2021, utilizou medicamentos para reduzir as dores no joelho – da mesma forma que ocorre atualmente no Grêmio. Ele também chegou a realizar tratamentos com células-tronco, além de infiltrações.
Somando todas as lesões no joelho desde 2014, quando precisou realizar sua primeira cirurgia, ficou fora 262 dias. A sequência mais longa foi em 2020, quando precisou passar por cirurgia no joelho e ficou cinco meses ausente. Como resultado, foi dispensado pelo clube, se transferindo para o Atlético de Madrid no mesmo ano.
"Suárez é um atleta de alto rendimento que começou a jogar muito cedo, e ter impacto muito cedo no joelho faz com que ele desenvolva artrose muito mais rápido de quem não é atleta. O caso dessa lesão é mais voltado a uma questão ambiental, o ambiente do esporte leva aos impactos, que, consequentemente, vão levar a um maior desgaste em comparação com as pessoas que não são atletas profissionais", afirma Luiz Felipe Carvalho, especialista em medicina regenerativa.
Ao Estadão, o médico sugere que o atacante repita o tratamento com células-tronco, para promover a recuperação articular. O Grêmio não deu detalhes sobre o tratamento que será realizado em Barcelona. "Seria possível diminuir o grau inflamatório, modular a dor dele, pois assim que a célula-tronco entra no joelho, é feita uma modulação da dor e promovendo regeneração de cartilagem, que é o mesmo processo feito com o Rodrigo Dourado, com o Diego Lugano e em vários outros atletas pelo mundo inteiro, com ótimos resultados."