Os dois anos seguidos de baixo desempenho do PIB, os sintomas de pressão inflacionária, a redução do ritmo de criação de empregos e os péssimos resultados da balança comercial, dentre outros indicadores, constituem um sinal de alerta quanto à necessidade de se fazer profunda avaliação do Brasil. Depois de um fluxo positivo de crescimento, de um processo de inclusão socioeconômica mundialmente reconhecido e do enfrentamento com sucesso da grande crise internacional desencadeada em 2008, é chegada a hora de iniciarmos um novo ciclo de expansão, e precisamos definir uma estratégia para que isto aconteça.
Não podemos continuar condenados a não crescer. Sem investimentos, é impossível melhorar a infraestrutura e aumentar a oferta de produtos e serviços que incorporem inovação e tecnologia. Com o governo gastando mal e muito, não temos como baixar os juros, e não é mais possível tolerar a péssima qualidade dos serviços públicos e a precariedade da educação, saúde e segurança. Se não incentivarmos os jovens e os que podem trabalhar, mas se acomodaram com programas sociais, não teremos recursos humanos capacitados, tão necessários para suportar nosso crescimento.
Todos esses desafios também são dificultados pela enorme burocracia, que inferniza a vida das pessoas e das empresas e aumenta o custo de tudo o que fazemos, eliminando boa parte dos ganhos de renda da última década. Inflação não se combate só com aumento de juros, mas principalmente com eficiência e produtividade e seus reflexos produtivos no equilíbrio entre oferta e demanda, com produtos inovadores e de baixo custo.
É preocupante observar a inexistência de um plano para mudar a presente conjuntura. Parecem faltar objetivos e ambição ao País. Aonde estamos indo? Quais são as nossas métricas para que a sociedade possa medir os avanços e cobrar os resultados? Qual é o futuro de nação que projetamos para despertar o ânimo dos jovens empreendedores e dos empresários que querem investir?
Nada mais oportuno para responder a essas questões do que um ano eleitoral como este 2014, quando elegeremos deputados estaduais e federais, senadores, governadores e o presidente da República. Todos os ocupantes de cargos eletivos têm imensa responsabilidade perante a Nação. O equilíbrio fiscal, por exemplo, fator condicionante à execução de uma política consistente de queda dos juros sem risco de inflação depende de todas as instâncias governamentais. O mesmo se aplica à racionalização dos tributos e aos investimentos em infraestrutura (há muitas obras importantes, como metrô e estradas, de competência estadual).
No tocante aos deputados federais e senadores, é direta a sua responsabilidade quanto às reformas estruturais, que seguem estagnadas há quase três décadas. É necessário que reafirmem a autonomia e significado do Poder Legislativo, contribuindo para que o País tenha um arcabouço legal mais compatível com os padrões de competitividade contemporâneos. Ao Executivo Federal cabe reduzir gastos supérfluos, ampliar os investimentos públicos, fazer decolar de modo amplo programas como as parcerias público-privadas, realizar uma política monetária (juros e câmbio) adequada a estimular a economia, bem como agir em sinergia com o Parlamento em favor da modernização das leis. Além disso, não podemos mais adiar a melhora de qualidade dos serviços públicos!
Missão prioritária é resgatar a capacidade concorrencial da indústria. Estudo do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp aponta que, dentre as nações mais relevantes em termos de renda, produção e número de habitantes, todas as que conseguiram alcançar o desenvolvimento apresentaram, no mínimo, 20% de participação da manufatura no PIB. Aqui, esse índice era de apenas 13% em 2012. No entanto, o “Custo Brasil” (composto por carga tributária, burocracia, capital de giro, energia/matéria-prima e infraestrutura/logística), somado a uma política monetária dissociada da realidade global, continua sendo um obstáculo à reindustrialização. Fabricar aqui é no mínimo 34,2% mais caro do que nos países com os quais concorremos.
É imprescindível que todos esses temas estejam presentes no debate eleitoral de 2014. Independentemente de quem vença as eleições à Presidência da República, governos estaduais e assembleias legislativas, Senado e Câmara dos Deputados, é crucial que os eleitos, sem ferir sua identidade partidária e seus compromissos políticos republicanos, pensem de modo prioritário no País, inserindo o poder público num processo coeso voltado à solução dos problemas nacionais e à expansão mais consistente do PIB. Não nos falta imenso potencial para crescer, mas é necessária uma estratégia de longo prazo, capaz de promover o desenvolvimento econômico e social.
*José Ricardo Roriz Coelho é presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo (Sindiplast-SP), vice-presidente e diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp.