O texto a seguir foi escrito ao som de Bellbottoms, do Jon Spencer Blues Explosion, a canção escolhida por Edgar Wright para abrir seu Em Ritmo de Fuga, na tentativa de emular aqui o que se passa na tela. A música que sai dos fones de ouvido do lado de cá também pulsa nos ouvidos feridos de Baby, o motorista de fuga sob as ordens de Doc, o bandido que não é tão mau assim de Kevin Spacey, em sua primeira fuga no filme. Lá, perde-se o fôlego um punhado de vezes, em cenas coreografadas por Ryan Heffington, o mesmo dos clipes da cantora Siá.
O carro gira, o som aumenta, em riffs cavalares. O veículo derrapa, os vocais rasgados de Spencer martelam na cabeça. A fuga tem êxito, o som desaparece. Fica o ruído da barulheira do lado de cá, tal qual o zumbido crônico que atormenta Baby.
E, embora não seja só a explosão do blues rock de Jon Spencer que domine as playlists do motorista, é a fuga da realidade que ele busca. E a encontra na fúria do rock e nas baladas melosas dos The Commodores e no suingue de Bob & Earl. O amor toma forma com Deborah, do T. Rex, e o sonho com o futuro se alimenta de Lets Go Away For Awhile – que não precisa ter versos para fazer a imaginação correr para fins de tarde ensolarados em boa companhia. As canções escolhidas têm, em comum, a ideia da fuga.
Seja social, cultural, política. Os BPMs (batidas por minuto) ditam o ritmo lá e cá. Quando Jon Spencer se silencia, o fim parece ter vindo rápido demais. Vicia. Assim como a velocidade do acerto de Edgar Wright.
PLAYLIST
Bellbottoms
Jon Spencer
Blues Explosion
Harlem Shuffle
Bob & Earl
Lets Go Away For Awhile
The Beach Boys
Unsquare Dance
Dave Brubeck
Easy
The Commodores
Brighton Rock
Queen
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.