Em depoimento à CPI da Petrobras, um funcionário da estatal disse sentir raiva e decepção com a deflagração do esquema de corrupção envolvendo os contratos da estatal. Flávio Fernando Casa Nova da Motta atuou como gerente de empreendimentos na Refinaria do Nordeste, conhecida como Abreu e Lima, em Pernambuco, e negou ter ciência da formação de cartel entre as empreiteiras nas licitações de obras da Petrobras – esquema revelado pela Operação Lava Jato.
“O sentimento é de decepção, de raiva, de revolta porque eu fiz o meu trabalho exatamente como a companhia mandou. Eu segui as regras da companhia”, afirmou. Ele disse ter conduzido sete processos de licitação no período em que esteve na refinaria – de 2007 a setembro de 2012 e, posteriormente, de dezembro de 2014 a maio de 2015.
Em cinco dos contratos firmados, o preço apresentado ficou abaixo da estimativa da Petrobras. “Hoje sabemos que quatro desses contratos foram celebrados com empresas citadas na Lava Jato. Eu gostaria de ter visto (esquema de cartel acontecer) porque não deixaria”, afirmou aos deputados presentes na sessão da CPI desta segunda-feira, 8.
“Minha obrigação era entender ou aceitar como melhor preço o que estivesse na faixa da Petrobras. E isso foi feito. Naquele momento, isso não era sinal de cartel. Eu convidei 15 empresas. Não há, na história que eu conheço, como 15 empresas se combinarem e convidar as 15 era uma providência para evitar cartel”, afirmou.
O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou sobrepreço em dois contratos dos sete mencionados por Casa Nova. Ele destacou, na CPI, que o processo na Corte de Contas não chegou ao momento de julgamento final. “Não há sobrepreço, porque a Petrobras estimou de acordo com os padrões da indústria de petróleo”, afirmou o funcionário.
A CPI da Petrobras ouve hoje depoimentos de sete funcionários da estatal com participação nas obras da Refinaria do Nordeste (RNEST) e na Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos (SP). Os trabalhos são coordenados pelo primeiro vice-presidente da CPI, Antonio Imbassahy (PSDB-BA).
O primeiro a ser ouvido, Abenildo Alves de Oliveira, da RNEST, disse nunca ter presenciado nenhum fato que o levasse a “achar estranho” o procedimento de licitação e contratação na Petrobras. “A licitação que eu participei teve oito proponentes. Daqueles, cinco tinham condições de participar do procedimento. Isso foi em 2008”, afirmou à CPI. Neste momento, os parlamentares presentes interrogam o terceiro funcionário a ser ouvido no dia, Heleno Lira.