Estadão

O sistema político gera representação muito fragmentada, afirma Marcos Mendes

A fragmentação do sistema político brasileiro e a elevada desigualdade entre os grupos sociais são os principais fatores por trás da crônica dificuldade de desenhar boas políticas públicas no País, avalia o economista Marcos Mendes, professor do Insper. Ele destaca a importância de se avaliar as políticas públicas, para aprender com seus erros. Esse é o espírito do livro Para não esquecer: políticas públicas que empobrecem o Brasil, que será lançado na segunda-feira. A seguir, os principais trechos da entrevista:

<b>Qual o principal fator por trás da baixa qualidade das políticas públicas?</b>

Temos um sistema político-eleitoral que gera uma representação muito fragmentada. Temos não apenas 20 e tantos partidos no Congresso como, dentro dos partidos, temos interesses pulverizados. Muitas vezes os parlamentares respondem mais ao interesse de grupos específicos do que ao interesse de uma programação político-partidária. Então, no Congresso, acabam sendo defendidos não os interesses da coletividade, mas os interesses daquele grupo que o parlamentar defende. E aí não estão preocupados se aqueles interesses vão gerar custos muito mais altos do que os benefícios que estão sendo gerados.

<b>O jogo de interesses não faz parte dos sistemas democráticos?</b>

Interesses existem em todas as sociedades, mas é preciso ter instituições políticas e eleitorais que filtrem esses interesses e joguem luz sobre eles.

<b>Há alguma outra particularidade no jogo de interesses no sistema político brasileiro?</b>

A desigualdade. Quando temos uma sociedade muito desigual, o que o pobre quer é muito diferente do que o rico quer, e do que a classe média quer. Pobre quer assistência social, ajuda, emprego. O rico quer subsídios para suas empresas. A classe média quer emprego público bem remunerado, universidade pública gratuita. Quando a sociedade é mais homogênea, todo mundo quer mais ou menos a mesma coisa.

<b>Há soluções de curto prazo para o problema?</b>

Temos várias pequenas políticas públicas que, se forem feitas com razoável eficiência, vão melhorando as coisas. Por exemplo, o governo acabou de multiplicar quase por três o Bolsa Família criando o Auxilio Brasil. Só que triplicamos com um desenho ruim. Ao mesmo tempo, não investimos no coração do programa de transferência, que é o Cadastro Único.

<b>O Bolsa Família é o caso de uma política pública bem avaliada, mas que foi descontinuada?</b>

Estamos piorando uma política bem desenhada. Há casos em que aprendemos com os erros, mas há casos de boas políticas que vão se deteriorando. É muito fácil uma bandeira eleitoral de R$ 400 para cada família, mas, na prática, estamos perdendo o foco da política nas pessoas mais necessitadas.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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