O homem vive sem um sonho? Quem procura entender a si mesmo e a seus semelhantes certamente já se fez esta indagação que traz à tona a necessidade sentida por todo ser humano de alimentar a crença de que não existe gratuitamente. De que sua vida tem um propósito, um sentido.
Na história de Jefferson Peres talvez exista uma resposta para a indagação. Advogado e professor, Jefferson por longo tempo serviu à sua cidade, Manaus, como simples vereador. Mas, por ser reto, os amazonenses o quiseram no Senado Federal. Ali, da tribuna, ele revelou o sonho que tinha: “Sonho com um Brasil em que os políticos deixem de ser pessoas inconfiáveis, que dizem o que não fazem e fazem o que não dizem”.
Depois, prosseguiu: “Sonho com um Brasil em que a coisa pública seja administrada com austeridade, em favor de todos, e não tratada como cosa nostra, em benefício de amigos, parentes, correligionários e apaniguados. Sonho com um Brasil em que os governantes sejam sóbrios e contidos, ao invés de parlapatões a fazer discursos ruins e vazios, que só enganam os tolos. Sonho com um país em que a educação seja prioridade número1, número 2 e número
E concluiu: “Sonho com um Brasil onde as cidades voltem a ser lugares civilizados e não tugúrios de facínoras, que acuam, intimidam e humilham cidadãos outrora livres. Sonho com um Brasil em que os brasileiros deixem de sentir vergonha da maioria dos políticos que possui”.
Em maio de 2008, Jefferson foi fulminado por um enfarte. No dia seguinte, o deputado federal Chico Alencar, do PSOL, seu colega no Congresso Nacional, revelou à Folha de S. Paulo: Jefferson andava entristecido em suas últimas semanas. A razão: os escândalos de corrupção tinham atingido até o partido dele, o PDT.
Pobre Jefferson! Pobres brasileiros! Quantos deles, como Jefferson, não terão se sentido privados de seus sonhos, nos últimos dias? Afinal, que sonho se pode alimentar diante da CPI do Cachoeira e dos novos acordos políticos?