O presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini, sempre foi um crítico da ausência do Estado na infraestrutura. Na avaliação dele, não é possível ter avanço do setor sem que haja investimento público.
Também é um crítico do teto de gastos. "É o ajuste mais perverso que existe numa economia, porque você está acabando com seu capital fixo para o potencial de crescimento futuro." A partir desta quarta, 12, a Abdib vai discutir esses e outros assuntos no Fórum 2023 – Avanços na Infraestrutura e Reindustrialização. A seguir, os principais trechos da entrevista.
<b>Como o sr. avalia os primeiros dias do governo em infraestrutura?</b>
Vemos algumas questões positivas. Primeiro, é a clareza da forma como é tratada a questão da responsabilidade fiscal, mas sem perder de vista a questão do investimento. A gente nunca teve uma queda tão substantiva do investimento público como nos últimos cinco anos. Investimento tem de ter caráter de flexibilidade para ser usado como ação anticíclica. E o que nós tínhamos era justamente o contrário. Havia um teto onde o investimento era um gasto discricionário, e as demais despesas avançavam, corrigidas pela inflação, e o investimento era cortado. É o ajuste mais perverso que existe numa economia, porque você está acabando com seu capital fixo para o potencial de crescimento futuro.
<b>E o que se pode esperar?</b>
Há uma série de questões que estão sendo avaliadas, principalmente o programa de apoio à transição energética ligada ao processo de reindustrialização. O Brasil vai ser um player importante na transição energética, com fontes renováveis e hidrogênio verde.
<b>Que infraestrutura esse governo herdou?</b>
Tivemos um avanço fantástico no programa de participação privada nas estradas federais pavimentadas. Só que isso chegou a 20% da malha, e dificilmente vai passar de 30%. O que aconteceu com o restante da malha que não foi colocado de forma transparente? É que a malha rodoviária federal pavimentada está depauperada. Então, essa questão é que tem de ficar clara, que, por mais que você avance principalmente em questão de rodovias e ferrovias, você tem de contar com a participação do setor público.
<b>Isso vale para todos os setores?</b>
Tem alguns segmentos, como saneamento, em que o efeito do novo marco regulatório fez a gente ver (concessões como) a Cedae no Rio de Janeiro, Alagoas, Pará, Piauí. As coisas acabaram avançando de forma significativa. E ainda tem um grande espaço para o setor privado. No caso de ferrovia, não dá para fazer só com setor privado. É um projeto de 12, 15 anos de caixa negativo.
<b>Quais setores devem ter maiores investimentos nos próximos anos?</b>
Saneamento deve continuar em destaque, até porque os investimentos das últimas concessões estão começando agora. O mesmo ocorre com aeroportos transferidos para a iniciativa privada e rodovias.
<b>Como fazer para não perdermos o bonde da transição energética, sobretudo no hidrogênio verde?</b>
Na minha visão, vai haver um movimento de recuo no processo de globalização e uma redistribuição dos novos nichos onde a transição energética vai se cruzar com a industrialização. Aí precisa ver quais produtos e equipamentos serão produzidos aqui. Não podemos ficar dependentes do mercado externo. Ou vai acontecer o que ocorreu com a vacina. A gente está na ponta para a produção, e não tem o insumo.