Mundo das Palavras

O texto literário e o não-literário

O que torna um texto literário diferente de um texto não-literário? São três as características que, supostamente, poderiam distinguir um texto literário de outro qualquer, apontadas por José Fiorin e Francisco Savioli, em “Para entender o texto”. A primeira característica se liga ao conteúdo dos textos. E é logo descartada pelos dois autores. Não há conteúdos exclusivos dos textos literários, nem conteúdos que não possam ser explorados pelos literatos. A segunda característica se vincula ao caráter ficcional e não-ficcional dos textos. E, carrega uma dificuldade, manifestada em determinadas situações. Por exemplo: como esta distinção poderia ser feita em textos religiosos? A terceira característica se atrela à função do texto. É aquela aceita pelos dois autores. Para eles, um texto não-literário, em geral, tem função utilitária: a de convencer, a de documentar etc. Já o texto literário se destina tão somente à produzir efeito estético, uma decorrência do alcance de expressividade. Não serve preferencialmente à transmissão de conteúdos. Porque nele importa menos o que é dito, e, mais o como é dito. Por isto, as relações novas e estranhas estabelecidas entre as palavras nos textos literários resultam da maneira como os literatos se exprimem. Uma maneira capaz de dotar as palavras de certo frescor, ao desatrelá-las dos significados aos quais são convencionalmente associados.


  Dentro desta classificação de textos estabelecida por Fiorin e Savioli, o texto jornalístico adquire um status à parte. Porque embora tenha funções utilitárias – as de informar, analisar e entreter – também busca expressividade. Quando não a alcança e se torna insípido como relatório burocrático ou um registro cartorial. Perde leitores, se descaracterizando como um produto de sua área, a da Comunicação Social.


A perspectiva de proporcionar aos leitores prazer de leitura de textos dotados de expressividade, pela habilidade e pelo talento de seus jornalistas, deve conduzir a produção das publicações especialmente numa época de acirrada disputa com meios de comunicação equipados tecnologicamente para oferecer som e imagens em movimento.


De qualquer modo, a procura por expressividade nunca poderá sacrificar no texto jornalístico uma das suas características fundamentais: a clareza. O jornalista não está impedido de dotar seus textos de efeitos expressivos como os usados por literatos,  entre os quais aqueles obtidos com frases ritmadas, rimas, sonoridades diversas etc. Ao contrário, pode e deve usá-los também. Apenas está impedido de permitir que a busca de expressividade torne seu texto obscuro – uma restrição que o produtor literário não sofre. Poetas e romancistas gozam do privilégio de poderem criar textos sem nenhuma forma clara de captação do real, inteiramente autocentrados, “opacos” segundo uma expressão usada por Samira Mesquita, em “O enredo”. Os textos dos jornalistas têm de se manter “transparentes”. 


No entanto, antes de se perder a transparência muita experimentação pode ser feita dentro do texto jornalístico na caça à expressividade, como demonstraram Roberto Freire e Marcos Faerman, entre tantos profissionais de imprensa criativos. 


 


Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP

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