Algumas, tímidas, usam as pontas dos dedos para tocar a elevação entre as pernas das calças de um jovem deitado, esculpido em metal por Jules Dalou. Outras enchem as mãos, selvagemente famintas. Há as elegantes que usam delicadas luvas. E nostálgicas que fecham os olhos em busca de boas lembranças. As brincalhonas simulam aproximação com a boca. E as mais animadas levantam as saias e se deitam sobre a escultura.
Ali, num terreno do vigésimo distrito de Paris, aquelas mulheres, com alegria e irreverência, praticam um culto antigo: o da fertilidade, adotado, há milênios, em países como Itália, Japão, Índia, Egito, Síria e Irã, por quem tem dificuldades para casar e engravidar.
Aquele terreno com a escultura não poderia ser mais estimulante ao culto. A obra de Dalou recobre uma sepultura, a de Victor Noir, jornalista republicano, morto, em 1870, por um Bonaparte (Pierre), primo do Imperador Napoleão III. Crime que ocorreu quando Victor tinha 22 anos de idade e estava nas vésperas de seu casamento. Portanto, supostamente, provido de sua máxima energia sexual.
O terreno da sepultura pertence ao Cemitério do Père-Lachaise, cuja área, desde os anos 1000, vem concentrando as mais poderosas heranças genéticas de outras variedades de fertilidades masculinas – as artísticas e intelectuais. Ela guardou, depois de mortos, os corpos do filósofo Pedro Abelardo, amante de Heloísa de Paráclito, nos anos 1.000; os do escritor Cyrano de Bergerac, do poeta Jean de La Fontaine, e do dramaturgo Molière, nos anos de 1600. Os do pintor Eugène Delacroix, do escritor Honoré de Balzac, nos anos de 1700. Os dos escritores Oscar Wilde e Marcel Proust, dos poetas Paul Éluard e Sully Prudhomme, do pintor Amedeo Modigliani, e, do compositor Frédéric Chiopin, nos anos de 1800. E, os do cineasta Marcel Camus, do mímico Marcel Marceau, e dos cantores Yves Montand e Jim Morrison, nos anos de 1900.
Nas últimas quatro décadas, o pênis recoberto da escultura de Victor têm recebido tantos toques que suas formas originais ficaram corroídas. Em 2004, os toques foram oficialmente proibidos. Parte da imprensa francesa os considerou “fricções lascivas”. Contudo, a população feminina da cidade reagiu sob o comando de uma líder, a arquiteta Péri Cochin, estrela da TV France 2 e mãe fértil – pela quarta vez, aos 48 anos de idade, em 2013.
Anulado o decreto, imagens do culto podem ser vistas, hoje, no Google. Basta digitar: Victor Noir.