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O trabalho escravo, a alta costura e os consumidores

Mais uma vez somos surpreendidos pelas notícias dos flagrantes efetuados por fiscais do Ministério do Trabalho em oficinas clandestinas em São Paulo, onde bolivianos eram submetidos a condições degradantes de trabalho, desta vez na produção de roupas para a grife Gregory.


 


Desde a década de 1980, o Brasil vem recebendo de forma crescente grupos de imigrantes latino-americanos, em especial bolivianos clandestinos, que buscam aqui perspectivas de vida melhores. Nestas condições, eles são presas fáceis de aproveitadores, donos de empresas que terceirizam a confecção de roupas de diferentes grifes.


 


Em agosto do ano passado, a grife espanhola Zara foi autuada porque tercerizadas produziam suas peças com mão de obra boliviana semi-escrava. Agora, quase no mesmo momento em que a Gregory lançava sua coleção de inverno, uma equipe de fiscalização trabalhista flagrou situação de cerceamento de liberdade, servidão por dívida, jornada exaustiva, ambiente degradante de trabalho e indício de tráfico de pessoas em uma oficina que produzia peças para a grife, na zona norte da capital paulista.


 


Vinte e três pessoas submetidas a condições análogas à da escravidão foram libertadas e 25 autos de infração foram lavrados, entre eles um por discriminação étnica, já que o tratamento dado aos indígenas (aimarás e quéchuas) era bem pior que o dispensado aos não-indígenas.


 


Para se ter uma idéia dos níveis absurdos que a exploração econômica atinge, basta ver que um vestido vendido ao consumidor final da Gregory por R$ 318 rende R$ 73 ao dono da oficina de costura e míseros R$ 3ao boliviano.


 


Acredito que além das multas, outras medidas duras devem ser adotadas, como a inclusão dessas empresas na lista suja do trabalho escravo do governo federal. Também devemos promover campanhas para sensibilizar os consumidores sobre as práticas de exploração do trabalho, uso de animais ou degradação do meio ambiente dessas empresas. Desta maneira, poderemos operar mudanças no modo como muitos empresários lidam com seus negócios.


 


A votação da PEC do Trabalho Escravo e a instalação da CPI do Trabalho Escravo no Brasil representam uma excelente oportunidade de coibir, de um vez por todas, essa prática vergonhosa, incompatível com os ideais de nação democrática e inclusiva que pretendemos ser. 


 


José Luiz Guimarães


Vereador (PT) e líder do Governo na Câmara Municipal


Escreve às quintas-feiras

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