Deixando para trás 75 anos de ressentimento, os líderes de Estados Unidos e Japão se reúnem nesta terça-feira em Pearl Harbor para uma visita histórica ao local onde um ataque surpresa japonês foi o estopim para a entrada dos EUA na Segunda Guerra (1939-45). A visita do premiê japonês, Shinzo Abe, com o presidente norte-americano, Barack Obama, é uma prova poderosa de que os outrora inimigos transcenderam as recriminações que pesavam sobre as relações após a guerra, na opinião do governo japonês.
Embora líderes japoneses já tenham visitado Pearl Harbor antes, Abe será o primeiro a visitar o memorial que lembra o naufrágio do navio USS Arizona. Para Obama, deve ser a última reunião dele na presidência com um líder estrangeiro, disseram assessores da Casa Branca. Quase oito anos atrás, Obama convidou o antecessor de Abe para ser o primeiro líder a ser recebido por ele na Casa Branca.
Para Abe, trata-se também de um ato de reciprocidade simbólica, seis meses após Obama se tornar o primeiro presidente dos EUA ainda no cargo a visitar Hiroshima, no Japão, onde os EUA lançaram uma bomba atômica no fim da Segunda Guerra. “Esta visita e a do presidente a Hiroshima mais cedo neste ano não teriam sido possíveis há oito anos”, disse Daniel Kritenbrink, principal assessor de Obama para a Ásia na Casa Branca.
Mais de 2.300 norte-americanos morreram em 7 de dezembro de 1941, quando mais de 300 aviões japoneses atacaram o local. Mais de mil pessoas ficaram feridas. Nos anos seguintes, os EUA prenderam cerca de 120 mil nipo-americanos em campos de internação, antes de lançar bombas atômicas em 1945 que mataram cerca de 140 mil pessoas em Hiroshima e 70 mil em Nagasaki.
Abe não pedirá desculpas por Pearl Harbor, disse o governo japonês, como Obama não pediu em maio na visita a Hiroshima. Na ocasião, a dupla aproveitou a visita para defender a aspiração de um futuro sem armas nucleares. Na opinião do veterano da Marinha Alfred Rodrigues, de 96 anos, que sobreviveu ao ataque em Pearl Harbor, não é necessário mesmo pedir desculpas. “Guerra é guerra”, resumiu. “Eles faziam o que deviam e nós estávamos fazendo o mesmo”, resumiu.
Após uma reunião formal nesta manhã, Obama e Abe planejam colocar uma coroa de flores no USS Arizona Memorial, onde se chega apenas de barco. Os dois líderes devem depois se pronunciar.
A China, por sua vez, criticou a visita de Abe como uma tentativa sem sinceridade de absolver o Japão de sua agressão nos tempos da guerra. “Tentar liquidar a história da Segunda Guerra fazendo uma visita a Pearl Harbor e consolando os mortos é apenas ilusão da parte do Japão”, disse Hua Chunying, porta-voz da chancelaria chinesa em Pequim. “O Japão nunca poderá virar esta página sem uma reconciliação com a China e outros países vitimados na Ásia”, disse a porta-voz. Fonte: Associated Press.